DIA 238: De volta ao básico: Porquê o sexo?
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Há perguntas que cada um de nós pode fazer a si próprio para se conhecer melhor na sua relação com o sexo:
Porquê fazer sexo? Quem é que eu sou no sexo? Como é a
minha relação com o meu corpo durante o sexo? O que é que eu julgo no sexo? O
que é que eu procuro no sexo? O que é que eu gosto no sexo?
Já alguma
vez te colocaste estas questões, ou terá sido o sexo introduzido nas nossas
vidas na turbulência da adolescência e aceite como uma pressão da sociedade?
Eu comecei a
questionar-me sobre estas dimensões do sexo no Agreementcourse e desde então tenho investigado e escrito sobre a relação que eu
criei com o sexo e a relação com o meu corpo. É curioso ver que, apesar do
corpo ser quem nós realmente somos, muitos dos tópicos relacionados com o
físico do ser humano são suprimidos na nossa comunicação ou abusados na mente
com imagens. Por isso, ao escrever para mim própria sobre este tema , tem sido
uma caixa de Pandora que tinha ficado algures perdida na infância, altura em
que não julgávamos o corpo ou o sexo como certo ou errado até ao momento em que
começámos a copiar as manias e tradições da sociedade em que crescemos.
Voltemos ao
título: Porquê o Sexo?
Para
explorar esta pergunta, tomemos o
exemplo do mito que as mulheres fingem orgasmos para satisfazerem o ego do
homem (!). Parece um pensamento retrógrado mas é importante que tanto as
mulheres como os homens se questionem sobre o ponto de partida para fazerem
sexo. Será que o ponto de partida de dar prazer ao outro não é de facto uma
forma de interesse-próprio, porque por trás disso está o medo de se perder o
parceiro? Isto é desonesto consigo próprio pela limitação que esta dependência
mental provoca, em que se é escravo/a do medo de se estar sozinho. Por sua vez,
o medo de se estar sozinho é o medo de se estar consigo próprio e de enfrentar
a sua própria mente. Por tanto, dar prazer ao outro em honestidade própria é
uma entrega incondicional, sem desejo nem medo.
E ainda, fingir-se a expressão corporal para manter os egos felizes é um
desperdício de tempo e só mostra como o nosso sexo/ideia do sexo/ponto de
partida do sexo é limitado nas nossas mentes.
Sobre o
ponto de partida do sexo, podemos dizer também que a intimidade sexual é um
momento de partilha e de confiança, em si próprio e no outro, e que através do
sexo se descobre um bocadinho mais de si próprio, permite-se estar no físico,
ultrapassam-se medos e papões, e permite-se estar vulnerável. Infelizmente, no
nosso mundo actual são talvez poucos os lugares e os momentos em que nos
permitimos estar plenamente cientes do nosso corpo, vulneráveis, entregues ao
outro corpo, sem medo da dor, sem medo da perda... Vejo o sexo como um processo
de auto-conhecimento e aperfeiçoamento e de transcendência dos medos que em
frações de segundos invadem as nossas mentes.
Como é que
foi possível tornarmos algo com tanto potencial, como o sexo, num tabu e numa
coisa abusiva?
A pergunta
que merece também atenção é: - será que sabemos o que o sexo realmente é, sem
imagens da mente, sem memórias, sem desejo de um orgasmo, sem expectativas, sem
arrependimento, sem a procura da energia acumulada na mente? Será que alguma
vez nos comprometemos a limpar a nossa mente?
O sexo
também não é baseado em conhecimento. Por muitos livros que se leiam, há pontos
da mente humana que têm de ser interiorizados, entendidos, perdoados, mudados e
recriados em cada um de nós.
Vamos então regressar ao básico do nosso corpo: e para isso, começamos
por respirar. Já alguma vez te focaste na tua própria respiração? E na
respiração do outro? E se este fôr o ponto de partida do sexo: a igualdade dos
corpos, a igualdade da presença e a descoberta de si próprio.
Numa
sociedade em que a maioria das pessoas cresceu ou contactou com a religião
católica, faz sentido questionarmo-nos também sobre o ponto de partida da
procriação. Irei muito provavelmente dedicar um blog para este tema, mas a meu
ver é necessário colocar-se as tradições à luz da realidade. Em plena crise
económica, talvez não seja o mais indicado ter-se muitos filhos sem que as
condições de vida sejam garantidas e por isso é importante que haja o mínimo de
senso comum e de responsabilidade própria. A ideia da procriação, como a
palavra indica, implica uma pro-Criação, ou seja, um progresso, um upgrade dos pais e uma evolução da vida. No
entanto, parece ser contraditório que as pessoas sejam capazes de criar uma
melhor versão delas próprias sem primeiro se conhecerem plenamente.
Foto: "Don't talk about sex" http://www.jonathanmckeewrites.com/archive/2012/02/26/afraid-talk-sex.aspx