DIA 227: Tendência de dizer "sim" a tudo e Resistência a dizer "não"?
É fascinante
perceber quando a desonestidade própria está à espreita e, no espaço de
segundos, tenho a única escolha que resta: ser honesta comigo própria. O
problema que até agora eu tenho enfrentado é que nós não somos educados a ser
honestos connosco próprios, a começar pelos primeiros anos de vida em que nos
apercebemos que agradar os outros traz uma recompensa imediata e aparentemente
"sabe bem". No entanto, quando chegamos à idade adulta e projectamos
este padrão no emprego, a necessidade de apreciar o outro começa a dar que
pensar: porque raio é que eu digo que sim a tudo quando na realidade não será
fisicamente possível fazer todas estas tarefas? Por que é que eu não me dou
tempo para avaliar se o meu "sim" é honesto comigo própria e, se
assim for, será também honesto com o outro?
O padrão da
apreciação é "tricky" ou seja, é traiçoeiro porque no meio da
"energia positiva" e reconhecimento vindo do outro, nem conseguimos
ver que nos estamos a abusar, mentalmente e depois fisicamente. Este padrão é visivel na escola primária e na necessidade de se agradar a professora para me sentir especial e amada! Por isso, a típica ideia de se entregar uma maçã à Professora que era tão comum nos livrinhos de banda desenhada é, de facto, uma maçã envenenada através da qual vamos transportar este padrão da apreciação para a nossa vida adulta. Sem nos apercebermos, estamos a sofrer de uma lavagem cerebral em que nem sequer nos questionamos, porque é exactamente assim que vamos aceitar o sistema de trabalho como ele existe (disfuncional, desequilibrado e sem igualdade entre as pessoas)
Vejo em mim
esta tendência de acumular tarefas ao dizer "sim, faço daqui a pouco", ou "sim, aceito esta missão" no emprego, mas depois o "sim" traduz-se em pressão e auto-tensão quando acabo por ter de deixar outras tarefas para depois ou apressar as coisas, em vez de
cooperar comigo própria e ser directa quando alguma coisa está ou vai afectar a
minha estabilidade.
Um dia
destes, dei por mim a delegar uma tarefa bastante básica, como pedir ao outro
que preparasse a salada do jantar e, embora me tenha apercebido que o primeiro
pensamento tinha sido o de dizer "nããã, deixa estar que eu faço", vi
então que aceitar a ajuda do outro foi a melhor coisa a fazer porque
representou a igualdade e a distribuição de tarefas que será igualmente
apreciada por todos quando formos todos jantar. Quando esta igualdade
prevalece, cria-se um ambiente produtivo e há uma concordância estabelecida
entre as pessoas.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido pensar em mim como uma vítima de acumulação de
tarefas e uma vítima dos outros, quando afinal tratasse de aceitar essa posição
como sendo eu.
Eu perdoo-me
por não me ter aceite e permitido ser honesta comigo própria e assim ser
honesta com os outros quando estamos numa situação de distribuir tarefas.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido ter medo
de dizer que "não" a coisas que me são mesmo quando eu vejo que
estarei a comprometer o meu tempo e todas as minhas outras tarefas.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido participar na resistência de delegar tarefas ou de dizer que "não posso ajudar" quando afinal delegar tarefas é também uma forma de ser um exemplo para mim e
para os outros e que dizer que "não" não implica necessariamente falta de vontade - em honestidade própria, ao não acumular tarefas nem novos compromissos eu estou a ser responsável com os meus compromissos existentes.
Eu
apercebo-me que esta ideia de acumular tarefas vem da minha experiência de
viver com pessoas dos "7 ofícios" que aceitavam fazer tudo o que lhes
era pedido e que isto era o "normal". No entanto, vejo agora que
aceitar apreciar-se os outros é uma forma de escravidão mental, baseada no medo
de aborrecer os outros, quando afinal a única coisa que se deixa ofender é o
ego das pessoas (e o ego não é quem as pessoas realmente são).
Por isso,
quando e assim que eu me vejo a aceitar fazer uma tarefa para apreciar a outra
pessoas (seja o meu manager, seja um
familiar, seja um amigo), eu páro, respiro, e vejo se realmente me poso
comprometer com essa tarefa de acordo com o tempo que eu tenho disponível.
Comprometo-me também a re-educar-me a ver as coisas em senso comum, em vez de
ver com base em laços emocionais ou laços pessoais que geram condicionalidade e
medo.
Quando e
assim que eu me vejo a ter medo e resistência de dizer que "não" a
uma tarefa que me seja pedida, eu páro e respiro. Esta resistência da mente é uma sabotagem da mente/ego para manter a
minha personalidade intacta mesmo quando esta personalidade não é o melhor para
mim. Por isso, eu dedico-me a respirar quando a energia do medo me invade e
ajudo-me a manter-me estável na minha decisão, seja "sim" ou
"não". Eu apercebo-me que a necessidade de "apreciar o
outro" só existe em mim e que depende de mim alimentar esta necessidade
dos egos ou não. Curiosamente, eu apercebo-me que é ridículo fazer uma coisa
para ter uma recompensa do outro quando na realidade essa mesma tarefa irá
implicar um sacrifício da minha parte. Apercebo-me que a única recompensa que
vale a pena dar a mim própria é a garantia de que estou a ser honesta comigo
própria nas minhas ações e relações com os outros e que não permito que a minha
mente/ego de energias positivas (reconhecimento) ou negativas (medo) dominem as
minhas decisões.
Eu
comprometo-me a pôr a honestidade própria e o senso comum em primeiro lugar de
modo a que as minhas decisões tenham a honestidade própria e o senso comum como
princípios base.
Eu
apercebo-me também que a energia de apreciar/agradar a outra pessoa não é real
e que é desnecessária se houver uma total confiança e se se recriar uma relação
e comunicação honesta com o outro, em que o outro saiba que eu não vou dizer
que "não" somente para o contrariar, e que ao mesmo tempo não irei
dizer que "sim" se isso me for prejudicar. Realizo que depende de mim
re-educar-me em honestidade própria e senso comum de modo a aplicar estes
princípios no meu dia-a-dia e ser um exemplo para mim própria (logo, para os
outros/todos, em unidade e igualdade como quem nós realmente somos).