DIA 235: Onde anda a expressão sexual?
Mas porque é
que o tema sexual no nosso mundo é composto por esta polaridade abominável: ou
se trata deste tópico na sua vulgarização máxima com piadas de calibre abaixo
do respeitável, ou não se fala dele apesar de estar constantemente a palpitar
nas mentes humanas, sem qualquer orientação, tornando-se num tabu sem se saber
como se falar dele?
Na
continuação da minha escrita e investigação da minha Religião do Ser, começo a
ver a minha relação com o aquilo que me foi ensinado como sendo errado, ou
doloroso, complicado, vergonhoso e perigoso: o melhor exemplo que eu encontro é
a religião criada à volta da expressão física dos corpos chamada de sexo. É
incrível como a falta de educação é substituída por uma religião de secretismo
à porta fechada, mesmo quando tal cegueira traz tantas consequências para cada
um de nós e, consequentemente, para a nossa sociedade. Na minha mente, este tópico foi também
mantido como um secretismo baseado nas histórias que ouvia falar dos outros e
da representação daquilo que supostamente o sexo é na indústria
cinematográfica.
É uma pena
que os adultos não sejam educados a educar as crianças sobre o que a vida
sexual é ou pode ser, sem se ter como referência a imprensa oculta de revistas
Marias e afins, ou pior, a referência pornográfica que é a completa adulteração
daquilo que a expressão sexual humana realmente é. A meu ver, o silêncio do
sexo tem sido substituído pela comédia, em que a maioria das piadas vão dar
eventualmente a fantasias sexuais que ficaram suprimidas algures nas mentes
humanas e que nem sequer nos questionamos sobre a banalidade dos comentários.
Vê-se então a paranóia do sexo espalhada por todo o lado associada à nudez das
campanhas publicitárias, a objectivação do corpo feminino, a ignorância sobre a
origem dos desejos da mente e, finalmente, a consequência global do abuso
manifestada em notícias de violações sexuais, de relações desequilibradas, de
violência sexual que pode condicionar a vida de um ser-humano para sempre caso
não haja um acompanhamento adequado. E no final de contas, somos nós enquanto
humanidade que estamos a criar este inferno para as nossas vidas e para as
vidas dos outros e portanto cada um de nós é responsável por ajudar-se a si
próprio a compreender o que se passa nas nossas mentes e, obviamente, corrigir
aquilo que manifesta abuso sobre si próprio e sobre os outros que são afectados
directa e indirectamente.
Se tirarmos
por momentos todas estas ideias associadas ao sexo, o que é que temos? Corpos
que respiram, igualdade, movimento, expressão, descoberta corporal, expansão
pessoal, alinhamento com o físico, presença, respeito por si próprio e pelo
outro, novidade, carinho, INTIMIDADE COM O SEU PRÓPRIO CORPO, prazer, entrega,
vulnerabilidade, estabilidade, sensibilidade, CONFIANÇA EM SI PRÓPRIO,
CONFIANÇA NO OUTRO, simplicidade, humildade, partilha e transcendência dos
limites que impusemos a nós próprios.
Infelizmente,
a extensão do abuso sexual na nossa sociedade comprova que há uma deficiência
na maneira como este tema é educado e que consequentemente é deixado à mercê
das mentes de cada um e também manipulado pelo sistema de poder e dinheiro.
Todos
sabemos que a prevenção é o melhor remédio, e para que haja prevenção tem de
haver entendimento sobre o que o sexo realmente é, como é que este tem sido
usado e abusado para manter as mentes suprimidas e sob controlo do medo, em vez
de cada um de nós ser realmente educado sobre o seu próprio corpo, em
estabelecer uma relação de confiança e a saber aquilo que é o melhor para si
próprio em unidade e igualdade com os outros.
Abro então
um novo capítulo no meu processo em que vou explorar os várias camadas de
pensamentos e ideias associados com o sexo como até agora tem sido mal-tratado,
e vou abrir caminho a uma nova perspectiva sobre a expressão sexual como sendo
o potencial máximo de expressão física, respeito mútuo e auto-conhecimento. Vou
andar este processo em tempo-real, re-educando-me de acordo com pontos que eu vou enfrentando
e lidando com eles. Sugiro que se oiça também as entrevistas da EQAFE que
proporcionam um entendimento da relação que cada um de nós criou com o sexo.