DIA 230: A Paranóia da Sexta-Feira
Será que já nos perguntámos porque razão a sexta-feira é um dia fascinante no calendário dos seres humanos do mundo ocidental? Pelo menos no meu escritório, paira no ar uma alegria estranha, há mais sorrisos, as pessoas vestem-se descontraidamente e há mais tempo para se conversar com o colega do lado. Isto não seria de estranhar se fosse a regra, no entanto, esta motivação quase infantil é a excepção e só ocorre um dia por semana. Ao fim de um ano, provavelmente vai-se ver que dos 260 dias de trabalho, apenas 52 dias foram levados de bom grado. Este comportamento está de tal forma enraizado na sociedade que até deu nome a um franchaising de restauração - o famoso Thank God Is Fridays.
Mas será que
é a Deus que agradecemos as nossas vidas semanais miseráveis que requerem um ou
dois dias de "descanso", para depois se voltar para a roda dos ratos
na corrida contra o tempo? Ou será que não somos nós próprios quem tem
consentido com uma vida contra a nossa própria existência, contra o nosso
próprio bem-estar, contra a nossa própria estabilidade e segurança de uma vida
garantida?
At least is
Friday é outra expressão que está nas bocas de muitos para se aceitar
qualquer coisa menos boa que aconteça numa sexta-feira, que realmente significa
"quero lá saber"... Foi estranho deparar-me com esta realidade do
mercado de trabalho quando me juntei a uma grande empresa porque não estava
habituada a ver a influencia da chegada do fim-de-semana e a abertura com que
as pessoas expressavam a necessidade e desespero pela chegada das 17:00.
Provavelmente não reparei nesta paranóia enquanto trabalhava numa pequena
empresa porque espera-se que os empregados gostem daquilo que fazem e
normalmente o director encontra-se na mesma sala!
Para mim, a
motivação da sexta-feira é como um balão que enche e se esvazia até estar
murcho num domingo à noite e não haver qualquer vontade-própria de começar a
segunda-feira. No entanto, a partir de quarta-feira, o mesmo balão recomeça a
ser enchido pela vontade crescente de se ter dois dias "livres"
geridos pela nossa própria decisão. Curiosamente, cheguei à realização que a
minha gestão do tempo durante o fim-de-semana é precária quando comparada com a gestão das minhas reuniões durante a semana. Apercebo-me também que a
sexta-feira tem um certo "sabor" a rebeldia, em que eu noto a
tendência de desejar quebrar a rotina para não pensar no dia seguinte e
convencer-me a mim própria que estes eventos fazem sentido e que eu mereço ter
este descanso.
Se eu
acredito que eu mereço este descanso e se fisicamente o meu corpo necessita
deste repouso semanal, então como posso aceitar que no mesmo mundo existem
pessoas sem dias de férias nem qualquer motivação externa que as convença que a
vida delas vai mudar para melhor?
SOLUÇÃO
Será que não estaremos nós numa posição
privilegiada de questionarmos o sistema que nos prende, de questionarmos as
razões pelas quais não estamos plenamente satisfeitos com a nossa actividade
diária, nos questionarmos que, se não fosse pelo dinheiro, provavelmente a
maioria das pessoas iria fazer qualquer coisa diferente daquilo que faz. E tu, vês a tua paranóia e a paranóia da nossa sociedade? Se
realmente estivéssemos empenhados em criar o paraíso na Terra, cada dia seria
igualmente importante na vida de cada um, em que cada um de nós respira aqui,
se expande sem medo, dedica-se a aperfeiçoar a sua actividade e sabe que está a
fazer o melhor por si, para si e pelos outros.
Sugiro que se comece a investigar soluções a favor de uma sociedade equilibrada na qual a precaridade está fora da Equação - isto será possível se o dinheiro passar a ser uma forma de libertação e não de controlo. Leiam mais sobre o Rendimento Básico Garantido: http://basicincome.me/
Blogs recomendados: http://joaojesus-renascendo.blogspot.co.uk/