DIA 103: Autodisciplina de dentro para fora VS Austeridade de fora para dentro
É de certo
surreal acreditar-se que alguma austeridade vai mudar a desorganização interna
que existe na mente de cada um. As noções de certo e errado são manipuladas
pelo valor das coisas, que por sua vez são manipuladas por um sistema económico
demente.
Uma das
consequências da falta de autodisciplina é acreditar que se está condicionado
pelos outros ou mesmo por um Governo, quando em honestidade própria, somos nós
quem primeiro permitimos condicionarmos com ideias de como as coisas são, com
base em experiências passadas e crenças de que não se consegue mudar. Podemos começar por nos questionarmos sobre
aquilo que temos aceite e permitido como sendo a normalidade: a corrupção, a
desigualdade, o ego, a superioridade e inferioridade com base no peso da
carteira, os preços das coisas, a sobrevivência dos favores, o parecer sem se
Ser, a ideia que um curso superior faz a diferença, ou até mesmo que lá fora é
tudo melhor... Este "lá fora" é muito relativo, porque é por dentro
da mente humana que a desorganização começa.
Será realmente impossível reformularmos as aceitações e permissões para juntos criarmos
uma realidade que seja melhor do que aquela que tem sido até agora? E porque
não começarmos por nós próprios que é a única coisa que podemos garantir mudar?
E é aqui que entra a autodisciplina e honestidade própria - a honestidade como
vida e para com a vida, em igualdade e unidade com os outros.
Até à pouco
tempo a palavra/noção de disciplina trazia uma conotação negativa de algo
contra a minha vontade, tal e qual uma imposição. Isto porque nunca tinha
considerado a disciplina como algo vindo de mim e para mim, tendo antes sido
associado a algo vindo de fora contra mim, como se alguém me conhecesse melhor
do que eu própria.
Comecei por
ler no site do Desteni artigos sobre self-discipline e como esta estava associada
à honestidade e direção próprias. Agora em Portugal, apercebo-me das
consequências da falta de disciplina própria, ou seja, de permitir e aceitar
"ir ao sabor do vento" - que é a versão poética de se dizer que se vai
desorientado e à espera que algo ou alguém me dê direção. Quando não há
autodisciplina, a austeridade externa acredita ser uma solução, como ter alguém
a dizer o que tem de ser, sem primeiro nos re-educarmos sobre o que é o melhor
para todos.
Na
realidade, o estado do mundo e o estado de cada país é o reflexo daquilo que
cada um tem permitido em si próprio e por isso não ninguém que acarreta as
culpas porque somos todos igualmente responsáveis pelo que temos permitido e
aceite como "normal". O que é certo é que até agora temos permitido
uma total ignorância sobre como o sistema económico e político funciona, com a
desculpa que "desde que eu tenha o meu conforto emocional, então está tudo
bem", sem nos apercebermos que estamos a cavar o nosso próprio abismo e
que a terra que atiramos para trás vai acumulando até cair em cima de nós.
Por isso,
uma das soluções que eu me tenho apercebido como essencial no processo de
mudança, é a tomada de responsabilidade própria e a autodisciplina em realmente
viver a mudança. Não há meios-termos: ou se pára de participar nos padrões do
passado, ou se vive um novo futuro.
Esta semana
irei dedicar-me a explorar e escrever o perdão-próprio para os vários padrões da mente,
começando pela resistência em sermos o exemplo para nós próprios.