DIA 195: A mania de apreciar "os outros"
No
seguimento do meu fim-de-semana mais silencioso do que é habitual, dei por mim
a não participar nas conversas de cerimónia e para "manter a
relação", embora não tivesse sido necessariamente por escolha própria, mas
porque tinha de evitar esforçar a boca/gengiva. Agora que recupero, apercebo-me
que não quero participar nesta mania de conversas para apreciar o outro -
exemplo típico é pensar que se não falar com a outra pessoa esta vai pensar que
eu estou chateada com ela! Obviamente, esta é uma projeção minha e é este o
ponto que eu me vou focar e vou esta atenta ao meu ponto de partida quando
comunico: será que estou a partilhar coisas práticas, ou estou desabafar um
ponto que ainda nem eu própria olhei para ele, ou será que estou a falar para
ter a aprovação do outro, porque me sinto inferior, ou porque penso precisar da
atenção do outro, ou porque é "chato" haver silêncio?
Ultimamente
tenho visto uma série chamada The Big Bang Theory na qual um dos jovens
cientistas não corresponde às expectativas sociais de evitar ser-se direto ou
mesmo ser-se simpático - em vez disso, ele comunica as coisas como elas
funcionam fisicamente, sem emoções nem apegos. É uma comédia e leva a situação
ao extremo, mas dá que pensar como as relações conseguem ser superficiais em
nome de supostos papéis que cada um de nós representa - E não seremos realmente
todos ensinados a sermos actores e a aceitarmos os papéis que melhor posição
social nos dão naquele momento específico, com aquela audiência, naquele
lugar...
Umas das
principais consequências que eu estou neste momento a enfrentar é a gestão do
meu tempo, especialmente quando momentos de conversa rotineira passam à minha
frente e eu ainda não consigo simplesmente explicar que não tenho tempo. Em vez
disso, acabo por comprometer a minha vida ao pensar "São só mais 5
minutos" quando na realidade eu não estou a ser honesta comigo própria nem
com a outra pessoa.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido julgar que vou ser mal interpretada se eu não
participar na conversa com a outra pessoa e simplesmente disser que não tenho
tempo naquele momento.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido pensar que vou estragar aquele momento se eu for
responsável por parar de alimentar o momento de boa disposição e partilha, em
vez de ver que é uma tomada de direção simples e que não é nada pessoal em
relação ao outro.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido ter medo de ser vista como uma desmancha
prazeres, quando em honestidade própria vejo que é a mim que eu estou a
comprometer a minha disponibilidade e o meu tempo.
Quando e
assim que eu me vejo a manter uma conversa somente por ter
medo/vergonha/resistência para parar a conversa e dar-me direção, eu páro e
respiro. Ao respirar, eu dou-me a oportunidade de voltar a mim, de me situar e
de ver se estou a conversar por iniciativa própria ou porque sinto a pressão
social de alimentar uma conversa com outra pessoa.
Quando e
assim que eu me vejo a participar nesta ideia do "são só 5 minutos"
eu páro e respiro. Eu apercebo-me que estou de facto a ter resistência em ser
direta com a outra pessoa e de realmente perguntar quanto tempo é que a
conversa vai levar ou quanto tempo é que o outro tem disponivel, de modo a
garantir que estamos ambos com a mesma disponibilidade. Eu apercebo-me que a
comunicação verbal é de facto super potente e pode ser eficaz quando aplicada
em senso comum, em auto -ajuda e a ajudar o outro na partilha de informação. No
entanto, eu apercebo-me que comunicar com o outro não é nem pode ser uma forma
de entretenimento para passar o tempo - em vez disso, eu comprometo-me a ver
este padrão de agradar os outros como uma referência da minha honestidade
própria e mudar a maneira como eu lido comigo/com o meu tempo e com os outros.
Quando nas
situações me que eu vejo que a conversa está sem rumo, ou que estou "a
falar só por falar", eu páro, respiro e dou-me direção - por exemplo,
dedico-me a escrever sobre o ponto, para eu própria perceber de onde é que os
meus pensamentos vêm, as várias dimensões e ajudar-me a ver o ponto em senso
comum.
Quando e
assim que eu me vejo a manter uma conversa com a desculpa de "é preciso
manter a relação"como se fosse uma obrigação em nome do interesse-próprio,
eu páro e respiro. Eu averiguo se tenho de facto a disponibilidade para estar
totalmente presente a participar um e igual na conversa, ou se é sensato
explicar que tenho outras coisas planeadas e sugerir outra altura para se falar
se o tópico ainda for relevante. Eu apercebo-me que se aquilo que eu disser for
levado a peito é uma projeção do outro - da mesma maneira que se eu levar a
peito aquilo que me é dito é também um ponto de insegurança minha.
Quando e
assim que eu me vejo a acreditar que ao manter a conversa eu estou a agradar o
outro, eu páro e respiro. Eu apercebo-me que esta é uma ideia e projecção de
mim própria e de como eu defino as pessoas de acordo com aquilo que elas me
fazem sentir (se me sinto ouvida, se me sinto ignorada, se me sinto com
atenção) e que afinal sou eu que julgo o outro como sendo simpático ou
antipático de acordo com aquilo que me faz sentir (e quão manipulador isto pode
ser!).
Eu
comprometo-me então a estar focada na
minha direção e não me permitir dis-trair com estes diálogos da mente que só
criam separação comigo própria e na minha relação com os outros. Eu vejo então
que ao ser honesta comigo própria, eu estou a ser honesta com os outros e sou
capaz de confiar na minha gestão de tempo e confiar no meu ponto de partida
para comunicar com o outro (um e igual) sem manias de inferioridade.
Ilustração: Andrew Gable