DIA 213: Tempo é dinheiro e a falta de dinheiro é o cancro da sociedade
Nos últimos quatro dias tenho andado por dentro do sistema de saúde Português, entre consultas,
análises, papéis para um lado, papéis para o outro, e reparo como o sistema
está montado para o negócio privado de modo a que a rapidez seja uma garantia.
É óbvio que numa situação de emergência e incerteza qualquer mãe/pai quer a
melhor solução ao dispôr para o seu filho o mais rapidamente possível, mas está
visto que sem o factor de “dinheiro no bolso” (literalmente, porque em alguns
locais nem se aceita multibanco) uma mãe não vai longe. Pergunto-me se isto é
óbvio para aqueles que montaram este negócio porque, certamente, aqueles que
trabalham nele estão cientes do sofrimento daqueles que não podem pagar, mas
também não podem esperar.
No meu caso, a primeira
coisa que fiz foi tirar o parecer com a minha ginecologista e
fui marcar uma ecografia da mama numa clínica. Obviamente que
estes processos implicam já por si ter uma viatura com combustível para
deslocações e ter tempo para se dedicar a estas andanças. A segurança social
pode ajudar embora isso implique ter uma credêncial do médico de família (não
sei quanto tempo de espera isso pode levar normalmente mas mais uma vez este
tempo poderia ser substituído por dinheiro para se fazer a ecografia no dia
seguinte por exemplo!). Se houver um seguro que cubra estas situações, este
implica sempre que os custos sejam acarretados pelo paciente mas que poderá
depois vir a ser reembolsado.
Ou seja, ou se
tem dinheiro disponível, ou aguarda-se pelos requerimentos que dão uma ajuda de
custo. Mas quem é que se pode dar ao luxo de esperar quando a ansiedade e o
próprio corpo exigem atenção imediata? Como é que se promove o rastreio
antecipado se isso envolve ter-se dinheiro para consultas, ter-se dinheiro para
potenciais tratamentos e, outra coisa fundamental, ter-se tempo para se andar
de um lado para o outro, dinheiro para transportes, um emprego que permita ter-se
dias de folga, ter-se bons médicos ao alcance, ter-se o apoio da família,
ter-se o acesso à informação e ter-se
a preparação psicológica para não se alimentar fantasmas na mente e saber lidar com uma situação destas?
O sistema está
montado para que todos estes elementos sejam preenchidos, mas todos nós sabemos
que nesta altura é de facto uma minoria que consegue reunir os elementos necessários
para que a experiência de saúde não seja traumatizante.
Mais uma vez se
vê que a falta de saúde não é o problema se os recursos já existem no planeta
para que se comece o acompanhamento médico. Não será então a falta de dinheiro
o cancro da nossa sociedade que contamina tudo e todos? Não será então este
mais um indicador que o sistema só funciona para alguns e que não existe uma
plataforma de segurança social real que garanta o mesmo nível de excelência
para todos os co-cidadãos? Não será altura de se investigar a solução da
Igualdade Monetária que, na carta dos direitos visa garantir o direito igual à
saúde que providencie tudo aquilo que é essencial para se construir corpos
físicos fortes, com vitalidade e bem-estar, promovendo ao mesmo tempo a
claridade intelectual, o equilíbio emocional e a estabilidade física.
Ilustração: Equal Life Foundation