DIA 129: O que me atrasa? Dúvidas da VIDA ou a Vida sem dúvidas
Enquanto
andava apercebi-me de cada passo, como se me provasse a mim própria que sou
capaz de ir em frente, de andar sozinha, de decidir sozinha, de dar direção por
mim e para mim, de dançar comigo, de me divertir comigo própria, de me
conhecer, de me corrigir, de me levantar sozinha, de parar a mente sozinha e de
desprender-me do passado sozinha.
O que me
atrasa? Onde é que eu encalho, a procurar respostas na mente se a mente é o
problema?
Apercebi-me
que até agora tenho caído na armadilha de pensar que o passado me dá as
respostas para o futuro, sem ver que ao viver no passado eu estou a repetir o
passado e não me estou a criar a mim. Este ponto torna-se vísivel nas ideias
que eu criei sobre a carreira a tomar - O que
queres ser quando fores grande? E parece que encalhei na pergunta, sem
ver que eu tenho de criar e ser a resposta. Desde que me lembro, quis fazer
tudo: desde professora, a pediatra, a astrónoma, a realizadora de cinema, a
advogada, a actriz, a desportista, a arqueóloga, a diplomata, a empresária, a
mediadora, até ter passado por mais umas quantas janelas pelo caminho. E que
caminho é este? Parece que tem havido este fio condutor, como se fosse uma
corda da pesca à qual eu continuo agarrada em caso "algo corra mal"
ou à espera de estar preparada para uma onda imprevisível que eu prevejo
baseado em medos e histórias que eu ouvi falar acontecer "aos
outros".
Aquilo que
eu ainda não tinha tomado atenção é o meu ponto de partida para qualquer
decisão « - quem sou Eu nessa decisão? Sou o medo do futuro? Ou sou a minha
expansão? Sou o passado? Ou sou aquilo que é necessário fazer neste momento
presente? Sou o conforto da profissão? Ou sou a mudança?
Porque é que
eu ainda não comecei a andar numa outra direção diferente daquela que eu tenho
percorrido até então? Sempre as mesmas dúvidas e indecisões, tal e qual um
disco riscado.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido julgar-me como confusa e indecisa, somente porque
desejava que as coisas fossem mais rápidas e fáceis do que aquilo que realmente
uma decisão implica - eu apercebo-me que a velocidade da mente não é real e que
é da minha responsabilidade ver todas as dimensões da minha criação/decisão e
dar tempo a mim própria para testar a mudança.
Apercebo-me
que a resistência a aprender uma música no piano era baseada na imagem de mim a
tocar a música na perfeição - fisicamente tal magia não é possível - implica
dedicação, tempo, prática e auto-descoberta. Curiosamente, nunca pensei vir a
ser uma pianista, apesar de ter tocado piano durante 6 anos - porque será que
mesmo tocando piano nunca me permiti ser uma pianista e estar um e igual com
aquilo que eu tocava? Sempre vi o piano como algo "de mais" para mim,
ou "já comecei demasiado tarde" (apesar de ter 12 anos!) Vejo agora
que não tenho estado presente naquilo que faço, porque não tenho estado ciente
de mim própria - estas preocupações e indecisões da mente projectadas naquilo
que eu faço são um espelho daquilo que se passa comigo. Ou seja, a minha
realidade exterior só irá mudar quando for um reflexo da minha realidade
interna.
Eu perdoo-me
por não me ter aceite e permitido ser uma pianista e estar um e igual com a
minha ação, sem dúvidas nem medo de falhar nem julgamentos próprios.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido desejar que as coisas à minha volta me definam em
vez de eu realizar que a honestidade própria só existe de dentro para fora.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido criar a ideia de mim como frágil no piano e
definir-me como frágil perante os outros e, portanto, inferior.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido manter esta relação de inferioridade com aquilo
que eu faço, como se fosse uma forma de punição e sacrifício que tenho de fazer
pelo mundo. Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ver a
praticabilidade de querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo, sem perceber que
não conseguirei dar a mesma atenção a tudo, o que não significa que não
esteja/seja um e igual com tudo aquilo que eu faço.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido viver para corresponder às expectativas dos então
adultos, e desejar trazer brilho à vida deles, enquanto me esforçava por
agradar e acabar por me esquecer de mim própria.
Eu perdoo-me
por não me ter aceite e permitido investigar qual a área em que eu quero
expandir, ao mesmo tempo estando ciente da realidade/sociedade em que vivemos
de modo a ser parte da criação do presente/futuro que seja um mundo melhor do
que aquele que tem existido até agora.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido definir-me pela ideia que me perdi pelo caminho -
que é aquela ideia da "geração perdida" que foi tão bem ensinada na
escola... Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ver que nunca houve
qualquer decisão honesta em mim até agora, porque eu não tenho existido em
honestidade própria.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido pensar que no passado/infância é que se estava
bem, quando o presente é a acumulação do passado e claramente foi a acumulação
de muita confusão/ideias/crenças/desonestidades para comigo/com os outros/com a
Vida.
Quando e
assim que eu me vejo a desejar mudar o passado, eu páro e respiro. O passado
mostra-me aquilo que se tem passado comigo e que eu continuo a passar até eu
decidir parar a forma como penso de mim e dos outros para começar a recriar uma
nova relação comigo própria e com os outros.
Quando e
assim que eu me vejo a justificar os pensamentos/dúvidas do presente com base
na ideia que sempre fui assim, eu páro e respiro. Eu páro estes julgamentos
próprios, respiro e dou-me a oportunidade de ser criativa comigo própria:
permito-me investigar a origem e ver os medos/desejos por de trás de cada
pensamento/dúvida/decisão.
Quando e
assim que eu me vejo a entreter com as ideias de como eu era e sobre todas as
profissões que eu gostava de ser, eu páro e respiro. Apercebo-me que em senso
comum o que acontecia era eu ir conhecendo novas coisas e ter curiosidade
natural por várias destas profissões, sem ter de facto feito e vivido qualquer
decisão.
Quando e
assim que eu me vejo a desejar que os outros tomem decisões por mim, eu páro e
respiro. Eu apercebo-me que é impossível fugir à minha responsabilidade própria
de auto-realização e de parar de existir como mente/passado. Estamos todos no
mesmo processo, individualmente mas como um.
Eu
apercebo-me que o passado não me define - estas ideias/julgamentos que criei e
permiti programar em mim são desprogramáveis porque não são reais. Eu
comprometo-me a dar atenção à minha presença aqui, à existência, àquilo que eu
faço de facto e a quem eu sou naquilo que faço - a estar ciente do meu ponto de
partida e a garantir que o meu ponto de partida é em estabilidade, honestidade
própria, igualdade como Vida, justiça, incondicionalidade, presente, senso
comum e unidade. Eu comprometo-me a mudar a minha relação comigo própria ao
parar os pensamentos/julgamentos/projeções/imagens e ideias de indecisão e
punição - eu comprometo-me a continuar a andar ciente de cada passo, sem pressa
de avançar nem agarrada ao passado - aqui, estável, ciente de mim, da realidade
mundial e da minha participação, de modo fazer aquilo que em senso comum faz
sentido ser feito, à escala pessoal, local e à escala global.
Eu dedico-me
a aplicar a mim própria aquilo que eu desejo para os outros - libertar-me da
polaridade da mente, expressar-me incondicionalmente e finalmente permitir-me Viver em honestidade própria.
Uma nota importante: no sistema actual de educação/televisão/familiar,
somos de facto educados a encalhar e ter medo de tomar decisões; a calar; a não
questionar o sistema nem os nossos próprios pensamentos; estas permissões e
aceitações foram deliberadamente feitas e promovidas para que nos mantenhamos em medo e em modo de
sobrevivência - na percepção de existirmos uns contra os outros, entretidos em
lutas da mente, sem de factos nos conhecermos a nós , aos outros, nem tomarmos
ações que beneficiem todos.