DIA 176: Pensei em beber após três anos sem álcool
Enquanto
caminhava para casa dei por mim a pensar na sensação de descontração que eu
tinha quando bebia bebidas alcoólicas. Não foi por acaso que esta ideia surgiu
- apercebo-me que funcionou como um escape à exaustão sentida após uma semana
de trabalho intenso. A minha mente saltou para imagens dos meus tempos de
Erasmus, das longas conversas, da lata que eu tinha sob o efeito de álcool e foi como se
nesse momento percebesse porque é que as pessoas desejam beber no final da
semana - aparentemente o álcool anestesia as preocupações durante algumas horas, como se se tirasse a
carapaça de um peso às costas.
Esta foi
provavelmente a segunda vez que pensei em álcool desde que parei de beber há cerca de três
anos, cuja decisão foi tomada no momento em que realizei que o álcool trazia
supressões ao de cima sem qualquer direção - como se fosse uma realidade
paralela que, ao passar o efeito, nada daquilo faz sentido porque não era real
em mim. Ao ver que o hábito de beber álcool não me trazia a estabilidade que eu
quero criar em mim, foi claro para mim que iria parar para sempre e que iria
dedicar a minha vida a direcionar todos os pontos em plena sobriedade para
realmente resolver os pontos/supressões em mim.
Vejo o
álcool como uma forma de passar "paninhos quentes" e evitar ver as
coisas como elas são, por isso o desejo de voltar a beber surgiu como uma
alternativa ao meu cansaço do dia-a-dia. Foi como se a mente tentásse intervir
na minha decisão de não beber e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para eu rever
a minha posição em relação ao álcool. Curiosamente, estava a ter resistência em
escrever sobre isto e em partilhar os pontos sobre o álcool no meu blog.
Porquê? Porque beber é cool. Lembro-me
das primeiras vezes que disse que não bebia álcool de todo, vi o ar espantado
da pessoa à minha frente, como se fosse anormal não beber! Aqui em Inglaterra
perguntaram-me se a minha religião não o permitia... Em Portugal pensavam que
eu tinha aprendido a lição com um coma álcoolico ou coisa assim. Felizmente não
foi preciso aprender a lição da forma
dolorosa - no entanto, lembro-me daquelas manhãs de ressaca horríveis em
que passava horas a respirar na casa de banho para não vomitar e em que
prometia a mim mesma que não tocaria em álcool nunca mais. Claro que estas
palavras ficavam perdidas algures no tempo e voltava a beber ao sabor do
momento, da festa e da companhia.
Nunca
fui de beber para "partir" mas tinha a ideia que podia beber sempre
mais e que aguentava! O momento em que me apercebi do quão prejudicial este
hábito podia ser foi durante uma house party em Portugal
há cerca de quatro anos. Apesar de estar com um namoro estável, permiti-me
sentir uma espécie de atração por um rapaz que estava na festa - já nos
conhecíamos há mais tempo mas foi como se naquele momento visse que podia haver
mais qualquer coisa entre nós - e pelos vistos ele também estava interessado. A
aparente liberdade de poder curtir com aquele rapaz não era real porque não
existia antes de estar com o efeito de álcool! Como é que posso acreditar que há alguma liberdade na
ditadura da mente sobre o corpo?
Apercebi-me
que não estava a permitir-me dar-me direção em honestidade própria (e com o
compromisso da minha relação com o João)e estava a desistir dos meus princípios
de integridade e de responsabilidade.
A parte boa
desta experiência foi o facto de ter aberto em mim a minha atenção para os
efeitos do álcool na minha mente e permitir-me dar-me direção mesmo assim.
Outra coisa curiosa de ver nesta experiência foi o padrão da imagem - aquele
rapaz correspondia à imagem de perfeição da minha mente porque era loiro, de
olhos verdes e estrangeiro... Posso dizer que resisti à tentação da mente, no
entanto, sei que não resolvo os pontos se não escrever sobre eles e realmente
me dedicar a viver a mudança. Nisto, apercebo-me que nunca tinha escrito sobre
este episódio e que ainda estava a permitir dar asas a estas ideias e à
associação entre álcool e sexo.
Aquele
momento de flirt foi sem dúvida motivado
pela energia da mente, pela energia do desconhecido, pela energia de fazer algo
às escondidas, pela imaginação e pela energia de sair da minha vida rotineira -
no entanto, também isto são personalidades passageiras porque não se mantém
depois do efeito passar. Por isso, nada disto dura. A verdade é que eu não
posso sair da minha Vida rotineira, mas o que eu posso fazer é recriar a minha
vida, conhecer-me e mudar-me nos pontos/hábitos que requerem mudança para me
tornar uma pessoa melhor para mim e para os outros.
Por isso,
volto a rever a minha decisão de não me permitir ingerir álcool no meu corpo e
comprometo-me a ser assertiva na minha decisão.
No próximo
artigo irei escrever o perdão próprio e escrever a solução para cada vez que
estes pensamentos surgem.