DIA 222: O stress suprimido
Hoje estou
atrasada 30 minutos e já não vou chegar às 09:00. Acordei antes do despertador
a pensar que já era demasiado tarde mas, no momento em que vi que afinal era
muito cedo, tomei a decisão de ficar na cama até o desperta-dor tocar. Quando ouvi o despertador, fiz snooze e acabei por me levantar à hora que eu
devia estar a sair de casa, ou pelo menos estar quase pronta. Aparentemente não
há remorsos nem stress mas esta calma aparente é força do hábito de ter lidado
com esta situação toda a minha vida. Apercebo-me então que criei este mecanismo
de defesa que é a supressão do stress.Curiosamente,
o actual relógio na minha cozinha é muito parecido com o relógio que eu tinha
na casa onde eu vivi até aos meus 13 anos em Lisboa. Lembro-me de entrar na
cozinha e olhar para o relógio na esperança de ser ainda bastante cedo para eu
chegar à escola à mesma hora que os meus colegas. Isto deve ter acontecido
muito poucas vezes.
Actualmente,
embora já não esteja dependente de ninguém que me acorde e me leve à escola,
vejo que o hábito ainda existe e eu ainda olho para o relógio como se
miraculosamente fosse mais cedo, sem o fazer nada por garantir esta mudança no
meu dia-a-dia.
O Problema:
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido desrespeitar-me ao não cumprir a hora de acordar
que eu havia estipulado na noite anterior.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido pensar que eu preciso de uma motivação para além
de ir para o emprego de manhã, em vez de ver que esta resistência ou qualquer
motivação são tudo paranoias da mente e portanto não são reais.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido habitar-me e acreditar que o stress matinal é
normal e que é também normal ter pouco tempo para mim, quando afinal eu vejo
que eu sou responsável por me dar tempo e, caso contrário, eu estou a ser
responsável por encurtar o meu tempo.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido pensar que eu tenho de ser pontual para agradar
os outros (a Professora, o director, o pai, ...).
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido pensar na pontualidade como sendo mais do que
aquilo que é mas, devido à minha experiência e "historial" eu acabei
por definir a m issão de chegar a horas como sendo difícil.
Eu perdoo-me
por não me ter aceite e permitido ver que a resistência para me levantar é
mental pois eu vejo como eu sou rápida a criar justificações para ficar mais um
bocado na cama.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido "mudar" de ideias de manhã com base no
interesse-próprio de ficar na cama, em vez de cumprir com a minha palavra em
que havia decidido levantar-me aquela hora para estar tranquila.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido tornar-me no meu próprio inimigo ao criar este
tipo de antagonismo entre aquilo que eu decido e aquilo que eu realmente faço,
em vez de estar um e igual às minhas palavras nas minhas decisões.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido criar uma relação comigo própria de
instabilidade, em que à noite decido acordar às X horas mas no dia seguinte
acabo por desprezar a minha decisão - pela primeira vez eu vejo aqui também
manifestado o padrão de conflito, em que quando está tudo bem numa relação há a
partilha de bens mas quando o momento de viver essa decisão num momento crucial
surge (por exemplo numa discussão) começam-se a ver restrições e menos
vontade-própria de se partilhar.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido criar desconfiança em mim própria com base no
facto de ainda nem sequer conseguir confiar em algo supostamente simples que é
o meu acordar de manhã.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido associar o "acordar tranquilamente" ao
fim-de-semana e portanto permitir haver/criar stress durante a semana por ter
de acordar com horários.
Eu perdoo-me
por me ter aceite e permitido agarrar-me ao arrependimento em relação às coisas
que eu visualizo na minha memória tal como o arrependimento de acordar tarde.
A Solução:
Eu
apercebo-me que eu me defini como não sendo pontual e que eu fui alimentado
esta ideia em mim, como uma maneira de justificar os meus hábitos. Eu
comprometo-me a tomar esta oportunidade para realizar e viver a decisão de me
corrigir por mim, incondicionalmente, aqui e agora.
Quando e
assim que eu acordo de manhã e me vejo imediatamente a pensar que já estou
atrasada, eu páro e respiro. Em vez de alimentar a resistência, eu ajudo-me a
estar ciente do meu corpo físico, na cama, a respirar. Eu apercebo-me que a
imagem na minha mente de acordar e ver no relógio que já é tarde não passa de
uma imagem e que não tem de ter qualquer influencia na minha vida, porque eu
tomo direção.
Quando e
assim que eu me vejo a imaginar os vários cenários alternativos na minha mente
que são diferentes do meu plano inicial, eu páro os cenários da mente e
respiro. Eu comprometo-me a criar o meu plano de ação em tempo real e a que a
minha ação seja em auto-correção de pontos que ainda limitam a minha expressão
e auto-descoberta incondicional.
Quando e
assim que eu me vejo a antecipar a experiência de estar atrasada, eu páro e
respiro. Eu vejo agora que a minha mente me mostra memórias e que estas
memórias são ainda fonte de ansiedade. Eu comprometo-me parar a antecipação/memória da mente que em
nada me ajuda a recriar a minha realidade de modo a criar a minha estabilidade.
Eu
apercebo-me que os horário são uma ferramenta para eu me ajudar a gerir o meu
tempo da melhor maneira e para o meu benefício.
Quando e
assim que eu me vejo a imaginar-me a ficar na cama mais 5 minutos e justificar
isso com a ideia que eu irei ser mais rápida de manha, eu páro e respiro.
Apercebo-me então que esta ilusão sobre o tempo que eu levo a fazer as coisas tem sido uma manipulação-própria para servir
o "cansaço da mente". Eu serei mais eficaz ao combinar rapidez com
soluções práticas a cada momento.
Ilustração 1: A Persistencia da Memória, Salvador Dali
Ilustração 2: Balanced Life Skills http://balancedlifeskills.com/home/2011/07/14/how-to-reduce-stress-part-7-finding-the-time-to-do-everything.html