DIA 258: A Nossa Gaiola Dourada... e a Culpa no Prazer
Sempre que estou em
Portugal ou com familiares apercebo-me de maneiras de pensar e de agir que eu
julgo como sendo limitadoras, normalmente baseadas naquilo que os outros
pensam, e nunca pondo o seu bem-estar em primeiro lugar (nem em segundo, nem em
terceiro). Mesmo quando há oportunidade para se sair da toca, descontrair e
usufruir de algo gratificante, há uma força invisível de medo que o momento
acabe ou que não se repita, ou que não se mereça o melhor, ou sentir-se culpado
porque outras pessoas não estão a experienciar o mesmo. Uma amiga minha chamou
a este fenómeno a "culpa no prazer".
Recentemente vi
estes padrões auto-destrutivos e de pouco amor-próprio no filme de Ruben Alves
"La cage dorée" (A gaiola dourada) que retrata as peripécias de
emigrantes Portugueses em Paris, e
questionei-me sobre a nossa aceitação (pessoal e nacional) de vivermos para os
outros, sem controlo sobre as nossas vidas, e em modo de vitimização.
Tanto lá fora como
cá dentro, há na nossa cultura uma constante angústia intervalada por breves
momentos de descontração no café da esquina ou em frente ao ecrã da bola, para
depois se voltar a falar dos problemas (normalmente dos outros) e mais uma vez esquecer-se
de si próprio. Por muito honestos que sejamos, aquilo que faz da nossa vida uma
prisão é a falta de honestidade própria sobre quem somos e quem queremos ser.
Dei
por mim a sentir-me claustrofóbica, assustada e a julgar as personalidades que
via passar no ecrã por perceber que estes padrões existem de facto e que
afectam a vida das pessoas brutalmente - mas mais do que as peripécias que
acontecem ao casal Ribeiro, esta foi uma oportunidade para investigar como eu
também crio a minha própria gaiola, consciente ou inconscientemente. Sugiro que
faças o mesmo por ti.
Algumas das minhas
reações foram: apatia e medo em dar direção à minha vida; o medo de desapontar
alguem com a minha decisao; a culpa por fazer algo benéfica para mim; o
aparente conforto na vitimização e no desconforto; e a energia da fofoquice.
Nos próximos artigos irei desconstruir cada um destes padrões e ver como é que eu posso mudar a minha relação com estes hábitos e automatismos culturais. Por agora convido-vos também a ver o vlog sobre a minha experiência enquanto via o filme. E já agora subscreve o meu canal :)