DIA 247: Quando Lisboa não é boa…
Fui sair à noite em Lisboa e, mais do que nunca, apercebi-me de uma contradição no ar. Antes de descrever aquilo que senti e aquilo que vi, foi com tristeza que ouvi a voz alarmada dos mais velhos nos seus conselhos do "tem atenção, as coisas não estão para brincadeiras". Estas "coisas" referem-se ao estado de crise económica em que o país se encontra (ou se perde!) durante o qual a sobrevivência justifica a estupidez, corrupção e violência.
Este blog vem no
seguimento de uma 'demonstração' de violência em plena noite lisboeta, na qual
três ou quatro jovens começaram a atacar um rapaz com pontapés na barriga,
murros nas costas e, quando este se encontrava já mobilizado no chão, um dos
jovens ainda saltou na cabeça da suposta vítima, como se se tratásse de um ring
de wrestlin em pleno Bairro Alto. Eu encontrava-me do outro lado da estrada e
fiquei estática, sem saber o que fazer mas a desejar que aquela cena parásse.
Houve dois homens de estatura forte que se envolveram para separar os
"lutadores" e finalmente a cena acabou com o tal grupo a fugir pela
rua acima. Provavelmente, muitos de nós que assistimos ao que se passava
naquele momento queriamos ajudar e terminar o conflito, mas nestas situações
não se sabe o que é que realmente se passou, nem quais são as intençōes daquele
"espetáculo", nem se ha alguém armado naquela confusão toda.
Já não sentia aquela
ansiedade de perigo eminente há algum tempo. Trata-se de uma sensação de
insegurança que me prende os músculos e acelera o batimento cardíaco. Uma das
coisas que me faltou foi estar ciente da minha respiração e garantir que a
minha estabilidade é inabalável. Esta é a única preparação que eu me posso dar
a mim mesma de modo a não alimentar o conflito com mais uma reação vinda da
minha parte.
Quando o ambiente
naquela rua acalmou, continuei a andar e questionei-me se as proximas eleiçoes
autárquicas vão mudar alguma coisa e garantir que a segurança na rua seja um
direito básico proporcionado por políticas sociais-económicas. Nesse momento,
questionei-me também se algum dos políticos ocupados em ganhar votos estariam
ali, àquela hora e local, a ver a realidade crua e dura da juventude nacional.
Aquilo que esta
experiência me trouxe não foi uma justificação dos conselhos dos mais velhos,
mas foi um alerta pessoal para os medos que eu permito desenvolver dentro de
mim por influência daquilo que eu oiço, vejo e imagino. Ao mesmo tempo,
realizei que a desigualdade social no país é agudizante - por um lado
assistimos à violência mais primitiva e por outro lado, a uma elite em festa
numa passerele cor-de-rosa. E finalmente, vejo que campanhas ou programas
políticos que não tenham em vista acabar com as desigualdades sociais e
económicas são uma fachada desafazada da realidade.
Vou escrever sobre
os pontos da ansiedade, medo e antecipação brevemente. Até lá, vou ajudar-me a
aplicar o senso comum e a respiração no meu dia-a-dia especialmente quando enfrento situações
novas e sugiro também que os cidadãos e políticos exijam soluções que garantam
estabilidade financeira para todos os cidadãos, como por exemplo, através da
renda básica de cidadania. A prevenção é o melhor remédio.
Faz a tua voz contar pela Renda Básica de cidadania: http://cidadania-europeia.weebly.com/
Ilustraçao de Andrew Gable.