Dia 260: Ser Dura Comigo Mesma e Viver Sob o Estado de Zanga Iminente - Confissões
Esta semana
tenho estado ciente da tendência de me zangar comigo própria quando não faço as
coisas na perfeição ou quando cometo erros. Curiosamente, o conceito de
perfeição é determinado por mim o que significa que o feitiço virou-se contra o
feiticeiro porque acabo por ficar zangada quando não ajo de acordo com uma
ideia que eu criei e impus para mim própria!
Esta rigidez
mental ocorre automaticamente e foi preciso alguém perto de mim me ter alertado
para o hábito de ser demasiado dura comigo mesma. Esta reação traduz-se em
momentos em que eu crio e acumulo fúria dentro de mim, como uma forma de
punição por algo que eu tenha dito ou feito e que me julgo como não sendo boa o
suficiente.
Por trás
disto, existe o factor da zanga, de estar chateada comigo, de me irritar,
acumular esta raiva, projectá-la no meu mundo e suprimi-la dentro do meu corpo.
Desde que comecei a investigar este ponto dentro de mim tenho visto como esta
atitude para comigo mesma está presente em tantas coisas que eu faço no meu
dia-a-dia: quando não concordo com algo que o meu parceiro faça, quando estou
atrasada, quando algo não corre como planeado, quando começa a chuver, quando
um motorista faz uma manobra, quando vou para a cama tarde, quando recebo um
comentário negativo, quando vejo uma notícia sobre conflitos e injustiças, e
muito mais. A lista é longa no entanto vejo agora que a minha reação para com
aquilo que eu faço ou com o que está à minha volta é descenessária. Aliás, se
eu parar de estar zangada é menos uma coisa a agravar o problema.
É
interessante observar como a maioria destas reações não são exteriorizadas
porque não quero passar uma imagem de ser exaltada, ou instável. No entanto, a
energia da raiva continua a existir dentro de mim... Suprimida. Esta
manifesta-se nas converas que existem dentro da minha mente, na minha visão de
como eu vejo as coisas, nos julgamentos e na primeira reação que eu tenho,
mesmo que seja por apenas alguns segundos. No passado deixava que estes
julgamentos sobre os problemas alimentássem a ideia de impotência e actualmente
sou capaz de não me deixar absorver pelo problema e olhar para a solução. No
entanto, agora estou ciente que dentro de mim ainda participo na energia da
reação baseada na fúria, na zanga, na irritação - a melhor maneira de identificar
uma energia é ver como estas emoções duram apenas alguns momentos e, com o
passar do tempo, acabam por desvanecer. Normalmente é depois da poeira acentar
que se conseguem ver soluções e frequentemente acabamos por nos arrepender de
algo que tenhamos dito ou feito sob o efeito da energia da raiva. Por isso
pergunto-me: se eu vejo que esta reação não me ajuda e até cria consequências
indesejadas, porque é que eu reajo em raiva e me zango? Quem é que eu sou sem
participar nesta energia? O que é que eu penso ser quando estou sob o efeito da
energia?
Se eu olhar
para o passado, consigo identificar momentos na minha vida em que vi
pessoas zangadas, de voz exaltada, com gestos largos e com atitudes bruscas.
Embora isto me fizesse estremecer por dentro, poucos eram aqueles que
desafiavam este estado de raiva e que faziam as coisas de maneira diferente.
Portanto, a tendência de me zangar foi
aceite como normal. Está também associado à ideia de respeito e querer
ser respeitada, à noção de autoridade, de controlo e de ter medo de ser
inferior.
Em vez de me
julgar por isso, estou a investigar e a comunicar este ponto - primeiro comigo própria e
depois com as pessoas mais perto de mim - com o meu parceiro, com o meu buddy
do Processo e amigos mais chegados. Agora chegou o momento de partilhar com o
mundo. Tem sido importante expor esta minha tendência com o meu parceiro
especialmente porque em momentos em que o João me vê a reagir comigo própria ou
com alguma coisa, ele alerta-me e ajuda-me a ver quando me estou a zangar ou a
ficar chateada. Este é o processo de lidar com uma energia que tem existido
dentro de mim durante muito tempo e que estou agora a parar de participar nela
através da respiração, do perdão-próprio e a corrigir-me em tempo real.
Estou a tomar responsabilidade pelo que se passa em mim e a mudar a minha vida.
Sinto uma
leveza dentro de mim desde que me permiti ver que não me tenho de zangar
comigo, com nada nem com ninguém. Dá-me vontade de chorar por finalmente
libertar este peso. É um peso carregado de moralidade, de ideias de como as
coisas devem ser, do julgamento do certo e errado, do bom e do mau. É o peso de
um Deus que eu criei dentro de mim própria e contra mim. É o peso de uma imagem
de perfeição. É o peso de uma punição que imagino para mim própria quando não
correspondo a estas ideias e que justifica os meus medos. É uma amarra à minha
expressão e à minha honestidade própria.
Agora
pergunto-me: quantos de nós tem vivido sob este estado de zanga iminente?
Quantos de nós gritam nos sonhos, o único espaço em que as supressões vêm ao de
cima? E quantos de nós se permite tirar o escudo de proteção chamado fúria, sem
medo de sermos vulneráveis e gentis connosco mesmos, com os outros, e
realizarmos que somos iguais?
Vejo então
que a fúria é um mecanismo de defesa do ego. Nenhuma atitude com base na mente
de superioridade e de controlo vai produzir resultados benéficos para mim ou
para os outros à minha volta: vejo consequências nas minhas relações passadas e
recentemente o meu corpo tem-me dado sinais de alerta. Estou grata por ter
actualmente pessoas e ferramentas que me apoiam a olhar para dentro e a resolver este problema dentro de mim. Espero que este blog te ajude a lidar com
este ponto caso também vejas a tendência para te zangares contigo e projectares
essa raiva no mundo à tua volta.
Nos próximos
blogues irei também publicar o perdão-próprio que tenho estado a viver em relação a
coisas ou momentos que desencadeiam a energia da raiva, irritação, zanga.
Até lá, recomendo que oiças também estas entevistas (em Ingês):
Utiliza a secção de comentários caso tenhas perguntas em relação a este ponto (ou outro na tua vida!) ou sobre o processo de auto-investigação.