DIA 238: De volta ao básico: Porquê o sexo?

segunda-feira, julho 22, 2013 0 Comments A+ a-




Há perguntas que cada um de nós pode fazer a si próprio para se conhecer melhor na sua relação com o sexo:
Porquê fazer sexo? Quem é que eu sou no sexo? Como é a minha relação com o meu corpo durante o sexo? O que é que eu julgo no sexo? O que é que eu procuro no sexo? O que é que eu gosto no sexo?

Já alguma vez te colocaste estas questões, ou terá sido o sexo introduzido nas nossas vidas na turbulência da adolescência e aceite como uma pressão da sociedade?
Eu comecei a questionar-me sobre estas dimensões do sexo no Agreementcourse e desde então tenho investigado e escrito sobre a relação que eu criei com o sexo e a relação com o meu corpo. É curioso ver que, apesar do corpo ser quem nós realmente somos, muitos dos tópicos relacionados com o físico do ser humano são suprimidos na nossa comunicação ou abusados na mente com imagens. Por isso, ao escrever para mim própria sobre este tema , tem sido uma caixa de Pandora que tinha ficado algures perdida na infância, altura em que não julgávamos o corpo ou o sexo como certo ou errado até ao momento em que começámos a copiar as manias e tradições da sociedade em que crescemos.

Voltemos ao título: Porquê o Sexo?
Para explorar esta  pergunta, tomemos o exemplo do mito que as mulheres fingem orgasmos para satisfazerem o ego do homem (!). Parece um pensamento retrógrado mas é importante que tanto as mulheres como os homens se questionem sobre o ponto de partida para fazerem sexo. Será que o ponto de partida de dar prazer ao outro não é de facto uma forma de interesse-próprio, porque por trás disso está o medo de se perder o parceiro? Isto é desonesto consigo próprio pela limitação que esta dependência mental provoca, em que se é escravo/a do medo de se estar sozinho. Por sua vez, o medo de se estar sozinho é o medo de se estar consigo próprio e de enfrentar a sua própria mente. Por tanto, dar prazer ao outro em honestidade própria é uma entrega incondicional, sem desejo nem medo.  E ainda, fingir-se a expressão corporal para manter os egos felizes é um desperdício de tempo e só mostra como o nosso sexo/ideia do sexo/ponto de partida do sexo é limitado nas nossas mentes.
Sobre o ponto de partida do sexo, podemos dizer também que a intimidade sexual é um momento de partilha e de confiança, em si próprio e no outro, e que através do sexo se descobre um bocadinho mais de si próprio, permite-se estar no físico, ultrapassam-se medos e papões, e permite-se estar vulnerável. Infelizmente, no nosso mundo actual são talvez poucos os lugares e os momentos em que nos permitimos estar plenamente cientes do nosso corpo, vulneráveis, entregues ao outro corpo, sem medo da dor, sem medo da perda... Vejo o sexo como um processo de auto-conhecimento e aperfeiçoamento e de transcendência dos medos que em frações de segundos invadem as nossas mentes.

Como é que foi possível tornarmos algo com tanto potencial, como o sexo, num tabu e numa coisa abusiva?
A pergunta que merece também atenção é: - será que sabemos o que o sexo realmente é, sem imagens da mente, sem memórias, sem desejo de um orgasmo, sem expectativas, sem arrependimento, sem a procura da energia acumulada na mente? Será que alguma vez nos comprometemos a limpar a nossa mente?
O sexo também não é baseado em conhecimento. Por muitos livros que se leiam, há pontos da mente humana que têm de ser interiorizados, entendidos, perdoados, mudados e recriados em cada um de nós.

Vamos então regressar ao básico do nosso corpo: e para isso, começamos por respirar. Já alguma vez te focaste na tua própria respiração? E na respiração do outro? E se este fôr o ponto de partida do sexo: a igualdade dos corpos, a igualdade da presença e a descoberta de si próprio.


Numa sociedade em que a maioria das pessoas cresceu ou contactou com a religião católica, faz sentido questionarmo-nos também sobre o ponto de partida da procriação. Irei muito provavelmente dedicar um blog para este tema, mas a meu ver é necessário colocar-se as tradições à luz da realidade. Em plena crise económica, talvez não seja o mais indicado ter-se muitos filhos sem que as condições de vida sejam garantidas e por isso é importante que haja o mínimo de senso comum e de responsabilidade própria. A ideia da procriação, como a palavra indica, implica uma pro-Criação, ou seja, um progresso, um upgrade dos pais e uma evolução da vida. No entanto, parece ser contraditório que as pessoas sejam capazes de criar uma melhor versão delas próprias sem primeiro se conhecerem plenamente.