DIA 227: Tendência de dizer "sim" a tudo e Resistência a dizer "não"?

sexta-feira, julho 05, 2013 0 Comments A+ a-

É fascinante perceber quando a desonestidade própria está à espreita e, no espaço de segundos, tenho a única escolha que resta: ser honesta comigo própria. O problema que até agora eu tenho enfrentado é que nós não somos educados a ser honestos connosco próprios, a começar pelos primeiros anos de vida em que nos apercebemos que agradar os outros traz uma recompensa imediata e aparentemente "sabe bem". No entanto, quando chegamos à idade adulta e projectamos este padrão no emprego, a necessidade de apreciar o outro começa a dar que pensar: porque raio é que eu digo que sim a tudo quando na realidade não será fisicamente possível fazer todas estas tarefas? Por que é que eu não me dou tempo para avaliar se o meu "sim" é honesto comigo própria e, se assim for, será também honesto com o outro?
O padrão da apreciação é "tricky" ou seja, é traiçoeiro porque no meio da "energia positiva" e reconhecimento vindo do outro, nem conseguimos ver que nos estamos a abusar, mentalmente e depois fisicamente. Este padrão é visivel na escola primária e na necessidade de se agradar a professora para me sentir especial e amada! Por isso, a típica ideia de se entregar uma maçã à Professora que era tão comum nos livrinhos de banda desenhada é, de facto, uma maçã envenenada através da qual vamos transportar este padrão da apreciação para a nossa vida adulta. Sem nos apercebermos, estamos a sofrer de uma lavagem cerebral em que nem sequer nos questionamos, porque é exactamente assim que vamos aceitar o sistema de trabalho como ele existe (disfuncional, desequilibrado e sem igualdade entre as pessoas)
Vejo em mim esta tendência de acumular tarefas ao dizer "sim, faço daqui a pouco", ou "sim, aceito esta missão" no emprego, mas depois o "sim" traduz-se em pressão e auto-tensão quando acabo por ter de deixar outras tarefas para depois ou apressar as coisas, em vez de cooperar comigo própria e ser directa quando alguma coisa está ou vai afectar a minha estabilidade.
Um dia destes, dei por mim a delegar uma tarefa bastante básica, como pedir ao outro que preparasse a salada do jantar e, embora me tenha apercebido que o primeiro pensamento tinha sido o de dizer "nããã, deixa estar que eu faço", vi então que aceitar a ajuda do outro foi a melhor coisa a fazer porque representou a igualdade e a distribuição de tarefas que será igualmente apreciada por todos quando formos todos jantar. Quando esta igualdade prevalece, cria-se um ambiente produtivo e há uma concordância estabelecida entre as pessoas.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido pensar em mim como uma vítima de acumulação de tarefas e uma vítima dos outros, quando afinal tratasse de aceitar essa posição como sendo eu.
Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ser honesta comigo própria e assim ser honesta com os outros quando estamos numa situação de distribuir tarefas.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido  ter medo de dizer que "não" a coisas que me são mesmo quando eu vejo que estarei a comprometer o meu tempo e todas as minhas outras tarefas.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido participar na resistência de delegar tarefas ou de dizer que "não posso ajudar" quando afinal delegar tarefas é também uma forma de ser um exemplo para mim e para os outros e que dizer que "não" não implica necessariamente falta de vontade - em honestidade própria, ao não acumular tarefas nem novos compromissos eu estou a ser responsável com os meus compromissos existentes.

Eu apercebo-me que esta ideia de acumular tarefas vem da minha experiência de viver com pessoas dos "7 ofícios" que aceitavam fazer tudo o que lhes era pedido e que isto era o "normal". No entanto, vejo agora que aceitar apreciar-se os outros é uma forma de escravidão mental, baseada no medo de aborrecer os outros, quando afinal a única coisa que se deixa ofender é o ego das pessoas (e o ego não é quem as pessoas realmente são).
Por isso, quando e assim que eu me vejo a aceitar fazer uma tarefa para apreciar a outra pessoas (seja o meu manager, seja um familiar, seja um amigo), eu páro, respiro, e vejo se realmente me poso comprometer com essa tarefa de acordo com o tempo que eu tenho disponível. Comprometo-me também a re-educar-me a ver as coisas em senso comum, em vez de ver com base em laços emocionais ou laços pessoais que geram condicionalidade e medo.
Quando e assim que eu me vejo a ter medo e resistência de dizer que "não" a uma tarefa que me seja pedida, eu páro e respiro. Esta resistência da mente é uma sabotagem da mente/ego para manter a minha personalidade intacta mesmo quando esta personalidade não é o melhor para mim. Por isso, eu dedico-me a respirar quando a energia do medo me invade e ajudo-me a manter-me estável na minha decisão, seja "sim" ou "não". Eu apercebo-me que a necessidade de "apreciar o outro" só existe em mim e que depende de mim alimentar esta necessidade dos egos ou não. Curiosamente, eu apercebo-me que é ridículo fazer uma coisa para ter uma recompensa do outro quando na realidade essa mesma tarefa irá implicar um sacrifício da minha parte. Apercebo-me que a única recompensa que vale a pena dar a mim própria é a garantia de que estou a ser honesta comigo própria nas minhas ações e relações com os outros e que não permito que a minha mente/ego de energias positivas (reconhecimento) ou negativas (medo) dominem as minhas decisões.
Eu comprometo-me a pôr a honestidade própria e o senso comum em primeiro lugar de modo a que as minhas decisões tenham a honestidade própria e o senso comum como princípios base.

Eu apercebo-me também que a energia de apreciar/agradar a outra pessoa não é real e que é desnecessária se houver uma total confiança e se se recriar uma relação e comunicação honesta com o outro, em que o outro saiba que eu não vou dizer que "não" somente para o contrariar, e que ao mesmo tempo não irei dizer que "sim" se isso me for prejudicar. Realizo que depende de mim re-educar-me em honestidade própria e senso comum de modo a aplicar estes princípios no meu dia-a-dia e ser um exemplo para mim própria (logo, para os outros/todos, em unidade e igualdade como quem nós realmente somos).