DIA 230: A Paranóia da Sexta-Feira

sexta-feira, julho 12, 2013 0 Comments A+ a-




Será que já nos perguntámos porque razão a sexta-feira é um dia fascinante no calendário dos seres humanos do mundo ocidental? Pelo menos no meu escritório, paira no ar uma alegria estranha, há mais sorrisos, as pessoas vestem-se descontraidamente e há mais tempo para se conversar com o colega do lado. Isto não seria de estranhar se fosse a regra, no entanto, esta motivação quase infantil é a excepção e só ocorre um dia por semana. Ao fim de um ano, provavelmente vai-se ver que dos 260 dias de trabalho, apenas 52 dias foram levados de bom grado. Este comportamento está de tal forma enraizado na sociedade que até deu nome a um franchaising de restauração - o famoso Thank God Is Fridays.
Mas será que é a Deus que agradecemos as nossas vidas semanais miseráveis que requerem um ou dois dias de "descanso", para depois se voltar para a roda dos ratos na corrida contra o tempo? Ou será que não somos nós próprios quem tem consentido com uma vida contra a nossa própria existência, contra o nosso próprio bem-estar, contra a nossa própria estabilidade e segurança de uma vida garantida?

 At least is Friday é outra expressão que está nas bocas de muitos para se aceitar qualquer coisa menos boa que aconteça numa sexta-feira, que realmente significa "quero lá saber"... Foi estranho deparar-me com esta realidade do mercado de trabalho quando me juntei a uma grande empresa porque não estava habituada a ver a influencia da chegada do fim-de-semana e a abertura com que as pessoas expressavam a necessidade e desespero pela chegada das 17:00. Provavelmente não reparei nesta paranóia enquanto trabalhava numa pequena empresa porque espera-se que os empregados gostem daquilo que fazem e normalmente o director encontra-se na mesma sala!

Para mim, a motivação da sexta-feira é como um balão que enche e se esvazia até estar murcho num domingo à noite e não haver qualquer vontade-própria de começar a segunda-feira. No entanto, a partir de quarta-feira, o mesmo balão recomeça a ser enchido pela vontade crescente de se ter dois dias "livres" geridos pela nossa própria decisão. Curiosamente, cheguei à realização que a minha gestão do tempo durante o fim-de-semana é precária quando comparada com a gestão das minhas reuniões durante a semana. Apercebo-me também que a sexta-feira tem um certo "sabor" a rebeldia, em que eu noto a tendência de desejar quebrar a rotina para não pensar no dia seguinte e convencer-me a mim própria que estes eventos fazem sentido e que eu mereço ter este descanso.

Se eu acredito que eu mereço este descanso e se fisicamente o meu corpo necessita deste repouso semanal, então como posso aceitar que no mesmo mundo existem pessoas sem dias de férias nem qualquer motivação externa que as convença que a vida delas vai mudar para melhor? 

SOLUÇÃO

Será que não estaremos nós numa posição privilegiada de questionarmos o sistema que nos prende, de questionarmos as razões pelas quais não estamos plenamente satisfeitos com a nossa actividade diária, nos questionarmos que, se não fosse pelo dinheiro, provavelmente a maioria das pessoas iria fazer qualquer coisa diferente daquilo que faz. E tu, vês a tua paranóia e a paranóia da nossa sociedade? Se realmente estivéssemos empenhados em criar o paraíso na Terra, cada dia seria igualmente importante na vida de cada um, em que cada um de nós respira aqui, se expande sem medo, dedica-se a aperfeiçoar a sua actividade e sabe que está a fazer o melhor por si, para si e pelos outros. 
Sugiro que se comece a investigar soluções a favor de uma sociedade equilibrada na qual a precaridade está fora da Equação - isto será possível se o dinheiro passar a ser uma forma de libertação e não de controlo. Leiam mais sobre o Rendimento Básico Garantido:  http://basicincome.me/