DIA 213: Tempo é dinheiro e a falta de dinheiro é o cancro da sociedade

terça-feira, maio 28, 2013 0 Comments A+ a-


Nos últimos quatro dias tenho andado por dentro do sistema de saúde Português, entre consultas, análises, papéis para um lado, papéis para o outro, e reparo como o sistema está montado para o negócio privado de modo a que a rapidez seja uma garantia. É óbvio que numa situação de emergência e incerteza qualquer mãe/pai quer a melhor solução ao dispôr para o seu filho o mais rapidamente possível, mas está visto que sem o factor de “dinheiro no bolso” (literalmente, porque em alguns locais nem se aceita multibanco) uma mãe não vai longe. Pergunto-me se isto é óbvio para aqueles que montaram este negócio porque, certamente, aqueles que trabalham nele estão cientes do sofrimento daqueles que não podem pagar, mas também não podem esperar.

No meu caso, a primeira coisa que fiz foi tirar o parecer com a minha ginecologista e fui marcar uma ecografia da mama numa clínica. Obviamente que estes processos implicam já por si ter uma viatura com combustível para deslocações e ter tempo para se dedicar a estas andanças. A segurança social pode ajudar embora isso implique ter uma credêncial do médico de família (não sei quanto tempo de espera isso pode levar normalmente mas mais uma vez este tempo poderia ser substituído por dinheiro para se fazer a ecografia no dia seguinte por exemplo!). Se houver um seguro que cubra estas situações, este implica sempre que os custos sejam acarretados pelo paciente mas que poderá depois vir a ser reembolsado.

Ou seja, ou se tem dinheiro disponível, ou aguarda-se pelos requerimentos que dão uma ajuda de custo. Mas quem é que se pode dar ao luxo de esperar quando a ansiedade e o próprio corpo exigem atenção imediata? Como é que se promove o rastreio antecipado se isso envolve ter-se dinheiro para consultas, ter-se dinheiro para potenciais tratamentos e, outra coisa fundamental, ter-se tempo para se andar de um lado para o outro, dinheiro para transportes, um emprego que permita ter-se dias de folga, ter-se bons médicos ao alcance, ter-se o apoio da família, ter-se o acesso à informação e ter-se a preparação psicológica para não se alimentar fantasmas na mente e saber lidar com uma situação destas?

O sistema está montado para que todos estes elementos sejam preenchidos, mas todos nós sabemos que nesta altura é de facto uma minoria que consegue reunir os elementos necessários para que a experiência de saúde não seja traumatizante.


Mais uma vez se vê que a falta de saúde não é o problema se os recursos já existem no planeta para que se comece o acompanhamento médico. Não será então a falta de dinheiro o cancro da nossa sociedade que contamina tudo e todos? Não será então este mais um indicador que o sistema só funciona para alguns e que não existe uma plataforma de segurança social real que garanta o mesmo nível de excelência para todos os co-cidadãos? Não será altura de se investigar a solução da Igualdade Monetária que, na carta dos direitos visa garantir o direito igual à saúde que providencie tudo aquilo que é essencial para se construir corpos físicos fortes, com vitalidade e bem-estar, promovendo ao mesmo tempo a claridade intelectual, o equilíbio emocional e a estabilidade física.

Ilustração: Equal Life Foundation