DIA 208: A justificação do "Tenho Tempo"

sábado, maio 18, 2013 0 Comments A+ a-


Apercebo que a resistência para escrever e a tendência para a procrastinação são redflags a indicar-me aquilo que eu estou a permitir repetir-se em mim. Por trás deste padrão, vejo o pensamento que "tenho tempo" para fazer isto ou aquilo, "tenho anos à minha frente", "vou ter a oportunidade mais tarde", sem sequer considerar a hipótese de criar essa oportunidade agora e começar a encaminhar-me nessa direção. 
Este padrão enquadra-se na Religião do meu Ser, baseada naquilo que me foi ensinado ao longo dos anos. Lembro-me claramente de ouvir dizer "Joana, vai com calma", "tens tempo", "ainda és muito nova", ... E agora já não é preciso ninguém dizer-me isto porque ficou registado e aparece automaticamente na maneira como encaro certas coisas, especialmente coisas novas, e a curiosidade fica suprimida, porque afinal, apesar de me interessar por isto ou aquilo, irei ter tempo e "se calhar" (que é a mesma coisa que dizer "Se Deus quiser") mais tarde irei estar numa posição mais vantajosa para finalmente viver a decisão! Até lá, acumulo uma série de "potenciais" de coisas que quero fazer, imagino o momento em que irei fazer essa coisa nova e admiro aqueles que não hesitaram em começar.
Obviamente, o processo de escrita requer prática e é preciso ir-se com calma, respiração em respiração, e estar-se fisicamente aqui. Mas desde que me tornei ciente desta tendência para adiar, fui mais eficaz em perceber se fazia ou não sentido esperar, ou se afinal a oportunidade de fazer determinada coisa estava/sempre esteve aqui. Finalmente comecei o meu novo blog http://diplomatjourneytolife.blogspot.com/ e tem sido fascinante desenvolver cada artigo e ver novos tópicos com base em informação da actualidade.
A expressão do bad timing poderá ser então a consequência de se ter esperado pelo "momento certo" sem realmente fazer-se nada por se criar esse momento. E não será então esta esperança pelo momento certo mais uma desonestidade que limita a nossa expansão?

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido absorver as expressões que me foram/são ditas pelos outros como sendo a "minha verdade" sem me aperceber que eu estou de facto a limitar o meu processo de auto-criação.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido reagir quando oiço alguém dizer-me que "tenho tempo", em vez de perceber se estou ou não a participar nesse padrão, perceber onde é que este padrão se manifesta na minha vida, e como é que eu posso resolver/transcender/parar este padrão em mim.
Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido questionar-me sobre a minha hesitação em fazer coisas novas e em mudar hábitos, e a partir daqui empenhar-me em dar resposta a essa hesitação e praticar a minha confiança a fazer coisas novas e a praticar a minha eficácia em fazer igualmente todas as coisas que me são benéficas.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido imaginar-me a conseguir fazer todas as coisas ao mesmo tempo ou a imaginar-me a ter conseguido fazer um bocadinho tudo sem realmente planear as minhas actividades.
Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ver que algumas coisas têm de ser largadas para começar novas e que tal mudança não implica necessariamente ruptura.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido desejar mudar os meus hábitos sem realmente e deliberadamente parar hábitos antigos e começar novos!

Quando e assim que eu me vejo a reagir quando oiço alguém dizer-me que sou "muito nova para pensar nisso" ou que "tenho tempo" ou outra coisa qualquer, eu páro a reação e respiro. Em honestidade própria eu permito-me perguntar porque é que eu estou a levar tais comentário pessoalmente, e permito-me ver em que aspectos é que eu estou de facto a participar nessas ideias. Eu apercebo-me que não sou responsável por aquilo que me é dito, mas que sou responsável por aquilo que eu faço perante aquilo que me é dito.
Quando e assim que eu me vejo a hesitar em começar coisas novas, eu páro e respiro. Apercebo-me que uma das justificações é baseada em "já tenho muitas coisas para fazer, não vou ter tempo agora", no entanto, em honestidade própria eu analiso o que é que eu posso "largar" e substituir pela nova actividade que, neste momento, me será mais benéfica. Se tal decisão implicar outras pessoas, eu comprometo-me a comunicar com os outros a minha decisão, ciente que tais escolhas têm de ser feitas por mim e que não posso ter esperança que alguém decida por mim aquilo que é o melhor para mim.
Quando e assim que eu me vejo a querer conciliar/coexistir em mim os hábitos antigos e os hábitos novos, eu páro e respiro. Eu apercebo-me que muitas vezes eu estou a manter certos hábitos (especialmente na minha relação com os outros) para agradar os outros, em vez de me disciplinar em ser honesta comigo própria na presença dos outros, um e igual.
Comprometo-me a estar ciente de cada vez que o pensamento/justificação do "tenho tempo" se manifesta e páro esse dominó - em vez de participar na resistência, eu faço exactamente o contrário daquilo que a minha mente dita e dedico-me então a começar essa nova actividade. Para isso, eu adapto e ajusto o meu tempo, e abdico de outras coisas, de modo a conseguir fazer essa actividade que neste momento me será benéfica. Vejo então que uma mudança de hábitos/padrões implica sempre uma mudança prática ao nível das prioridades em honestidade própria, e uma mudança física em se realmente viver as decisões.

Ilustração: Comical Sense - 'Advice', By Andrew Gable