DIA 129: O que me atrasa? Dúvidas da VIDA ou a Vida sem dúvidas

segunda-feira, novembro 05, 2012 0 Comments A+ a-



Enquanto andava apercebi-me de cada passo, como se me provasse a mim própria que sou capaz de ir em frente, de andar sozinha, de decidir sozinha, de dar direção por mim e para mim, de dançar comigo, de me divertir comigo própria, de me conhecer, de me corrigir, de me levantar sozinha, de parar a mente sozinha e de desprender-me do passado sozinha.

O que me atrasa? Onde é que eu encalho, a procurar respostas na mente se a mente é o problema?
Apercebi-me que até agora tenho caído na armadilha de pensar que o passado me dá as respostas para o futuro, sem ver que ao viver no passado eu estou a repetir o passado e não me estou a criar a mim. Este ponto torna-se vísivel nas ideias que eu criei sobre a carreira a tomar - O que queres ser quando fores grande? E parece que encalhei na pergunta, sem ver que eu tenho de criar e ser a resposta. Desde que me lembro, quis fazer tudo: desde professora, a pediatra, a astrónoma, a realizadora de cinema, a advogada, a actriz, a desportista, a arqueóloga, a diplomata, a empresária, a mediadora, até ter passado por mais umas quantas janelas pelo caminho. E que caminho é este? Parece que tem havido este fio condutor, como se fosse uma corda da pesca à qual eu continuo agarrada em caso "algo corra mal" ou à espera de estar preparada para uma onda imprevisível que eu prevejo baseado em medos e histórias que eu ouvi falar acontecer "aos outros".
Aquilo que eu ainda não tinha tomado atenção é o meu ponto de partida para qualquer decisão « - quem sou Eu nessa decisão? Sou o medo do futuro? Ou sou a minha expansão? Sou o passado? Ou sou aquilo que é necessário fazer neste momento presente? Sou o conforto da profissão? Ou sou a mudança?

Porque é que eu ainda não comecei a andar numa outra direção diferente daquela que eu tenho percorrido até então? Sempre as mesmas dúvidas e indecisões, tal e qual um disco riscado.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido julgar-me como confusa e indecisa, somente porque desejava que as coisas fossem mais rápidas e fáceis do que aquilo que realmente uma decisão implica - eu apercebo-me que a velocidade da mente não é real e que é da minha responsabilidade ver todas as dimensões da minha criação/decisão e dar tempo a mim própria para testar a mudança.
Apercebo-me que a resistência a aprender uma música no piano era baseada na imagem de mim a tocar a música na perfeição - fisicamente tal magia não é possível - implica dedicação, tempo, prática e auto-descoberta. Curiosamente, nunca pensei vir a ser uma pianista, apesar de ter tocado piano durante 6 anos - porque será que mesmo tocando piano nunca me permiti ser uma pianista e estar um e igual com aquilo que eu tocava? Sempre vi o piano como algo "de mais" para mim, ou "já comecei demasiado tarde" (apesar de ter 12 anos!) Vejo agora que não tenho estado presente naquilo que faço, porque não tenho estado ciente de mim própria - estas preocupações e indecisões da mente projectadas naquilo que eu faço são um espelho daquilo que se passa comigo. Ou seja, a minha realidade exterior só irá mudar quando for um reflexo da minha realidade interna.

Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ser uma pianista e estar um e igual com a minha ação, sem dúvidas nem medo de falhar nem julgamentos próprios.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido desejar que as coisas à minha volta me definam em vez de eu realizar que a honestidade própria só existe de dentro para fora.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido criar a ideia de mim como frágil no piano e definir-me como frágil perante os outros e, portanto, inferior.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido manter esta relação de inferioridade com aquilo que eu faço, como se fosse uma forma de punição e sacrifício que tenho de fazer pelo mundo. Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ver a praticabilidade de querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo, sem perceber que não conseguirei dar a mesma atenção a tudo, o que não significa que não esteja/seja um e igual com tudo aquilo que eu faço.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido viver para corresponder às expectativas dos então adultos, e desejar trazer brilho à vida deles, enquanto me esforçava por agradar e acabar por me esquecer de mim própria.

Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido investigar qual a área em que eu quero expandir, ao mesmo tempo estando ciente da realidade/sociedade em que vivemos de modo a ser parte da criação do presente/futuro que seja um mundo melhor do que aquele que tem existido até agora.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido definir-me pela ideia que me perdi pelo caminho - que é aquela ideia da "geração perdida" que foi tão bem ensinada na escola... Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ver que nunca houve qualquer decisão honesta em mim até agora, porque eu não tenho existido em honestidade própria.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido pensar que no passado/infância é que se estava bem, quando o presente é a acumulação do passado e claramente foi a acumulação de muita confusão/ideias/crenças/desonestidades para comigo/com os outros/com a Vida.

Quando e assim que eu me vejo a desejar mudar o passado, eu páro e respiro. O passado mostra-me aquilo que se tem passado comigo e que eu continuo a passar até eu decidir parar a forma como penso de mim e dos outros para começar a recriar uma nova relação comigo própria e com os outros.

Quando e assim que eu me vejo a justificar os pensamentos/dúvidas do presente com base na ideia que sempre fui assim, eu páro e respiro. Eu páro estes julgamentos próprios, respiro e dou-me a oportunidade de ser criativa comigo própria: permito-me investigar a origem e ver os medos/desejos por de trás de cada pensamento/dúvida/decisão.

Quando e assim que eu me vejo a entreter com as ideias de como eu era e sobre todas as profissões que eu gostava de ser, eu páro e respiro. Apercebo-me que em senso comum o que acontecia era eu ir conhecendo novas coisas e ter curiosidade natural por várias destas profissões, sem ter de facto feito e vivido qualquer decisão.

Quando e assim que eu me vejo a desejar que os outros tomem decisões por mim, eu páro e respiro. Eu apercebo-me que é impossível fugir à minha responsabilidade própria de auto-realização e de parar de existir como mente/passado. Estamos todos no mesmo processo, individualmente mas como um.

Eu apercebo-me que o passado não me define - estas ideias/julgamentos que criei e permiti programar em mim são desprogramáveis porque não são reais. Eu comprometo-me a dar atenção à minha presença aqui, à existência, àquilo que eu faço de facto e a quem eu sou naquilo que faço - a estar ciente do meu ponto de partida e a garantir que o meu ponto de partida é em estabilidade, honestidade própria, igualdade como Vida, justiça, incondicionalidade, presente, senso comum e unidade. Eu comprometo-me a mudar a minha relação comigo própria ao parar os pensamentos/julgamentos/projeções/imagens e ideias de indecisão e punição - eu comprometo-me a continuar a andar ciente de cada passo, sem pressa de avançar nem agarrada ao passado - aqui, estável, ciente de mim, da realidade mundial e da minha participação, de modo fazer aquilo que em senso comum faz sentido ser feito, à escala pessoal, local e à escala global.
Eu dedico-me a aplicar a mim própria aquilo que eu desejo para os outros - libertar-me da polaridade da mente, expressar-me incondicionalmente e finalmente  permitir-me Viver em honestidade própria.

Uma nota importante: no sistema actual de educação/televisão/familiar, somos de facto educados a encalhar e ter medo de tomar decisões; a calar; a não questionar o sistema nem os nossos próprios pensamentos; estas permissões e aceitações foram deliberadamente feitas e promovidas para que  nos mantenhamos em medo e em modo de sobrevivência - na percepção de existirmos uns contra os outros, entretidos em lutas da mente, sem de factos nos conhecermos a nós , aos outros, nem tomarmos ações que beneficiem todos.