DIA 193: Medo da mudança e medo da perda... dentes, acidentes, imaginação e dinheiro

sexta-feira, abril 05, 2013 0 Comments A+ a-


Após a extração do dente, comecei a sentir remorsos e medo de perder todos os dentes, medo de precisar do dente, medo de ficar sem dentes suficientes! Nisto, vejo um padrão de medo da mudança baseado na ideia de perda e este estado mental é cego porque não se consegue ver mais nada que não sejam os pensamentos de "não devia ter feito isto". É interessante que estes pensamentos não existiam antes tão claramente - foi como se ao ter o dente extraído (ou perder fisicamente alguma coisa) tivesse descoberto este padrão em mim que obviamente já existia, apenas não se tinha manifestado. Por isso, neste processo, cada vez mais me apercebo que a minha realidade física é um reflexo do que se passa em mim, ao estar ciente dos pensamentos que eu projecto à minha volta...
Se o medo da perda existe em mim, vou tomar responsabilidade e investigar como me estou a permitir limitar e, finalmente, aplicar-me em corrigir este hábito mental em mim.
O medo da perda (do dente) surgiu com base no medo de precisar do dente no futuro. No entanto, neste preciso momento este dente estava a incomodar-me e iria trazer-me problemas mais cedo ou mais tarde.
 Outro medo tem a ver com o medo de perder os dentes da frente - Quem é que não reage quando vê uma pessoa desdentada, por ter medo de ficar também desdentada? Este medo é o medo da minha imagem sem dentes e como eu me defini por ter os dentes no lugar, brancos e direitinhos. Há cerca de 5 anos tive um acidente de mota e lembro-me que quando acordei após a operação, senti uma placa de ferro na minha boca - fiquei super assustada e imaginei imediatamente que os meus dentes tinham ficado todos encavalitados e partidos. Esta era a minha segunda grande preocupação, depois de ter mexido as pernas para ter a certeza que não estava paralisada. Afinal aquilo que eu sentia era simplesmente uma placa a apoiar os meus dentes a fixarem-se no lugar.

De volta ao dente, este medo de perda não tem de existir - este dente não me iria ser removido se fosse realmente essencial. Além disso, há a possibilidade que o dente do siso venha substitui-lo. Curiosamente, comecei a sentir a boca mais leve e com mais espaço.
Durante a extração, eu estava agarrada ao dente e curiosamente este estava a dar luta! Apercebi-me que era altura de aprender a largar e de me "render". De certa maneira, o medo de deixar o dente ir tem também a ver com o hábito de ter aquele dente na minha boca e não me imaginei não tê-lo. Ou seja, o medo do futuro é muito em parte baseado na imagem do que já se conhece (mesmo que não seja perfeito) VS uma coisa nova (que não se conhece).

Reparo agora que os medos são como as bonecas russas, abre-se um medo e surge um outro, como se a minha mente tivesse um lugar para o medo que tem de estar sempre ocupado! Desta vez, o medo que surgiu depois da extração do dente foi o medo de complicações pós-cirurgia. Obviamente, que o estado de stress que eu permito (ou não) em mim vai ter impacto na recuperação. Por isso decido recuperar sem o medo. A recuperação é a parte da operação que eu posso controlar - ou seja, depende de mim, da atenção que dou a mim própria, do descanso, da toma do antibiótico e da estabilidade que crio em mim. Por isso escrevo sobre estas preocupações da mente, para esvaziar o medo de dentro de mim e deixar o medo ir, tal como deixei o dente ir e me dedico a tomar conta do meu corpo que está aqui.

Depois de ter escrito o seguinte perdão-próprio e as afirmações de auto-correção, apercebi-me que a minha desconfiança tem também a ver com o medo de ser levada a gastar/investir cada vez mais dinheiro em tratamentos dentários. Lembro-me que tinha pensado que este dente tinha de ser tratado mas que o doutor não estava a dar prioridade a esta situação, visto que havia outros tratamentos supostamente mais rentáveis a serem feitos noutros dentes. No final de contas, acabou por ser este dente a ser tratado primeiro e, em vez de me permitir relaxar, continuei a  participar no medo e desconfiança da mente.


Quanto à questão do dinheiro, eu apercebo-me que o medo ou a resistência em perder/investir dinheiro em tratamentos dentários é um facto inerente ao actual sistema económico. Vejo também que, mais uma vez, estes medos e preocupações seriam colmatados caso vivêssemos num sistema monetário que fosse igualitário e que garantisse que os doutores seguissem a carreira da saúde por realmente quererem o melhor para os seres-humanos e não pelo lucro. Da mesma maneira, nenhum de nós iria ter medo de ter problemas dentários porque saberia que estes seriam resolvidos incondicionalmente. Apercebo-me então que não é só a dor física dos tratamentos mas também o peso na carteira que nos faz ter resistência a ir ao dentista...
Independentemente disto, é crucial resolver estes medos e preocupações da minha mente.

Eu perdoo-me por me estar a permitir e aceitar alimentar os medos que surgem na minha mente após a cirurgia, como se os medos fossem reais.
Eu perdoo-me por não me estar a permitir e aceitar olhar para a situação médica em senso comum e assim não permitir que o medo contamine tudo e todos.
Eu perdoo-me por me estar a permitir e aceitar desconfiar do meu médico e pensar que ele quer tirar os meus dentes para depois fazer mais dinheiro comigo caso eu precise de mais tratamentos para substituir o dente.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido participar na desconfiança da mente em vez de estar aberta à explicação do doutor e sobre a situação física e real dos meus dentes.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido acreditar que tenho de ser desconfiada para ser respeitada (e não ser enganada).
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido acreditar que se eu permitir tirar um dente estou de facto a andar em direção à perda total dos meus dentes, o que eu vejo ser a mente a levar-me para a outra polaridade!
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido imaginar-me sem dentes ou com os dentes encavalitados e por me ter permitido deixar assustar por esta imagem da mente.
Eu perdoo-me por me estar a permitir agarrar-me à ideia que não devia ter aceite este tratamento com base na ideia que o meu médico em Portugal saberia melhor o que fazer, com base em experiências do passado que não se aplicam necessariamente ao caso actual.
Eu perdoo-me por não me estar a permitir focar-me na recuperação e na minha estabilidade que é aquilo que eu realmente posso controlar neste momento.

Quando e assim que eu me vejo a participar na desconfiança da mente em relação à extração do meu dente, eu páro e respiro.
Ao respirar, eu permito-me descomplicar a situação física e apercebo-me que são os meus pensamentos que estão a complicar. Nisto eu apercebo-me que estou agarrada à ideia que podia ter havido outro tipo de tratamento alternativo em vez de ouvir os conselhos do doutor e ver aquilo que está realmente aqui. Eu apercebo-me que a minha dúvida é baseada em informação relativamente a outros casos, por isso, eu permito-me focar-me no MEU caso, abraçar esta situação como tendo sido o melhor para mim e aperceber que não precisava de chegar ao ponto de ter dor absoluta para me "convencer" que este dente deveria ser tratado/extraído urgentemente.

Eu dedico-me a focar-me apenas na minha recuperação e, quando e assim que eu vejo um pensamento da mente a justificar o arrependimento, eu páro, respiro e escrevo sobre isso para me permitir ver a complicação da minha mente e ajudar-me a ver as soluções para mim própria.
Quando e assim que eu me vejo a imaginar a perder os meus dentes da frente ou a ficar assustada com a ideia de vir a perder todos os meus dentes quando envelhecer, eu páro o medo e respiro. Eu apercebo-me que esta aterrorização da mente não é real e que é apenas uma forma de manipular quem eu Sou e a minha criação. Eu dedico-me a respirar e a confiar em mim no meu processo de remover os meus medos, não os meus dentes ou outra parte do meu corpo físico!

Quando e assim que eu me vejo a desejar voltar atrás e sugerir outro tipo de tratamento, eu páro e respiro. Eu apercebo-me que estou a criar stress desnecessariamente para mim própria e que tenho mesmo de confiar naquilo que o especialista sugere.
Eu dedico-me a andar passo a passo, respiração em respiração, em estabilidade própria, em vez de saltar para o passado ou para um futuro e pensar naquilo que eu devia ter feito ou naquilo que eu devo fazer. Apercebo-me que a solução para os meus problemas exteriores passa por eu criar soluções de dentro para fora e por isso dedico-me a resolver os padrões da minha mente que me impedem de ver soluções práticas para mim (e para o mundo).

Quando e assim que eu me vejo a desconfiar que a mudança não me vai ser benéfica, eu páro e respiro. Eu apercebo-me que sou eu quem me estou a puxar para trás, em vez de abraçar a mudança e me permitir relaxar com a certeza que aquele dente não me vai incomodar mais!

Comprometo-me também a não generalizar esta situação e pensar que ao ter permitido a extração de um dente então vou abrir um precedente e terei  de extrair mais dentes - eu apercebo-me que a extração de dentes só é feita quando é realmente o melhor para a pessoa e que não é o fim do mundo. Isto é senso comum.

 Quando e assim que eu me vejo a projectar a minha desconfiança noutras pessoas e a acreditar que estou a ser enganada por outra pessoa, eu páro e respiro. Realizo que este é um indicador da mente que me mostra aquilo que eu tenho de urgentemente resolver em mim e por isso eu comprometo-me a parar a desconfiança em mim. Apercebo-me que a desconfiança da minha mente é auto-destrutiva e que sou responsável por parar este padrão em mim. Eu comprometo-me a abraçar aquilo que me é dado pelos outros, estando ciente que a minha estabilidade não está dependente disso e, ao mesmo tempo, dou-me a oportunidade de confiar em mim por me permitir confiar nos outros.

Ilustrações: 
Andrew Gable - The Decision – An Artists Journey To Life: Day 172 | An Artists Journey To Life http://bit.ly/SVmmxo
Andrew Gable - Where Do Your Thoughts Come From. Find Out how your mind really works - http://lite.desteniiprocess.com/
Marlen Vargas Del Razo - Money as Life?