Dia 146: O massacre que vai dentro das nossas mentes

sexta-feira, dezembro 14, 2012 0 Comments A+ a-




Como é que será a mente de uma pessoa que deliberadamente decide entrar a matar? Que mania é esta de brincarmos aos Deuses, mas que em vez de se viver o poder de criar vida, a única coisa que se pensa é tirar a vida? Que deuses falhados andamos nós a criar em nós próprios? 
Ouvi as notícias do massacre na escola primária do Conneticut e comecei a disparar em reações, como se isso fosse fazer alguma diferença na realidade daquelas pessoas, na minha e na do mundo. Em honestidade própria, apercebo-me que a reação surgiu em modo automático, primeiro porque estava acompanhada e porque é o que é "normal" comentar-se e marcar-se uma posição. No entanto, ao decidir sentar-me e escrever, vejo que a minha participação na reação foi meramente participar no problema e não é isto que eu quero para mim. Em inglês utiliza-se a expressão "ranting", que é o acto de reclamar que as coisas estão mal e ficar-se por aí, na impotência de que não há nada a fazer. Mas em senso comum, é óbvio que também eu sou responsável pelo evento que se passou do outro lado do atlântico. 
Por exemplo, quem é que permite que os jogos de armas sejam tão populares? Nós. 
Quem é que aceita que se promova a guerra e quem é que admira os generais fardados? Nós. 
Quem é que aceita que este sistema descuide a juventude que é deixada à mercê de uma TV em constante guerra (de imagens e guerra pelas audiências)? Nós todos. 
Quando digo nós, refiro-me a esta humanidade, mas vivemos tão isolados uns dos outros e desligados da nossa responsabilidade para com tudo o que acontece neste planeta, que ainda nos ofendemos quando alguém nos diz que somos responsáveis. A vida não é somente a "nossa" vidazinha rotineira e de políticas locais... Enquanto humanidade, é bem notável que podíamos estar a fazer mais e muito melhor para o melhor de todos. Mas este blog não tem a ver com moral - tem a ver com senso comum e serve de alerta para a nossa visão pequena das coisas, fruto de uma educação compartimentada a e isolada dos sistemas que governam o mundo. Aquilo que não conhecemos parece ser gigante porque corresponde ao tamanho do desconhecimento. No entanto, quanto mais nos apercebemos de como as coisas funcionam, mais nos tornamos um e iguais ao próprio sistema e facilmente nos apercebemos que é possível mudar aquilo que não bate certo. 
Definitivamente, ataques a escolas não bate certo; matar o futuro da humanidade não bate certo; matarmo-nos a nós próprios e auto destruir a nossa espécie não bate certo. Pensar "Oh, eu não aceito isto, mas que posso eu fazer?" é uma forma de ranting, porque implica um sentimento de culpa coberto de aparente impotência e que, em honestidade própria, é uma forma de justificar a ignorância e a falta de vontade para investigar o que se passa nas nossas mentes e neste mundo. Aquilo que sem dúvida podemos fazer é pararmos o julgamento destas notícias, pararmos de tomar estes eventos/a mente como adquiridos e fazermos um esforço para perceber a origem dos problemas que afectam cada um de nós e por consequência toda gente. 

A começar por nós próprios - por exemplo, podemos levar este caso à escala do nosso dia-a-dia e vermos onde e quando é que nos permitimos ter reações contra os outros; como é que na nossas mentes nos permitimos pensar em destruir o outro; quando é que nas nossas mentes permitimos que a reação tome conta do nosso corpo e fazemos coisas contra nós próprios e contra os outros. 
Quem é que já não ameaçou acabar com a sua própria vida em busca de atenção? Quando é que já não considerámos a morte como um escape àquilo que pensamos ser demasiado grande para nós? Consegues ver o padrão? 

Porque é que nos permitimos cegar com o fumo, em vez de desbravarmos a nuvem e vermos a origem do problema dentro de nós mesmos (normalmente um chama(da) de atenção)? 


Em vez de me querer separar do serial killer, eu vejo que somos iguais enquanto seres, mas por diversas razões eu consigo estar estável enquanto que ele acabou por projectar a raiva dele e disPará-la na vida dos outros. O meu perdão próprio é baseado na minha experiência das reações que, apesar de serem a uma escala diferente daquela que aconteceu na escola primária, qualquer reação não deixa de ser uma forma de abuso próprio e de abuso para com os outros à minha volta: 


Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido participar na energia da reação que, em honestidade própria, eu vejo que sou responsável por parar e ver que me cabe a mim não permitir ser contagiada pelo mundo de conflito à minha volta. 
Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ver e perceber que as reações só existem porque eu crio a reação em mim própria e acredito que vai ajudar-me a ter aquilo que eu quero - tal e qual um bebé chorão em pleno interesse próprio. 
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido desejar reagir para me impor aos outros, quando na realidade não tenho de me impor a ninguém porque todos são iguais em mim, sem haver seres inferiores nem seres superiores. 
Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ver que a reação é uma forma de espalhar o fogo e me distrair da origem do MEU problema e que funciona com um entretenimento da mente, quando afinal o problema está e esteve sempre aqui para eu o apagar e fazer as pazes comigo própria e MUDAR. 
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido distrair-me com a energia/o fumo da superficialidade da reação, que aparentemente é a maneira fácil de se ser ouvida mas que afinal de contas é a mim mesma que estou a ignorar. 
Apercebo-me que a reação é a explusão da acumulação de conversas, julgamentos, ideias, auto-definições, crenças, medos e projeções da minha mente, mas que nada disto é a expressão da vida que sou/somos. 

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido habituar-me a reagir com as pessoas à minha volta, sem ver que a reação é uma auto-limitação da mente para eu me manter nesta ideia que tenho razão e que sou uma vítima separada dos outros. Em vez disso, eu comprometo-me a estar ciente de mim própria e a estar ciente da minha capacidade de dar direção em momentos de reação. 
Ao parar a personalidade da reação, eu estou a recriar-me fora do padrão da reação e portanto sou capaz de ser, falar e existir em senso comum e ver/fazer aquilo que é o melhor para todos. 
Eu perdoo-me por não me ter aceite e permitido ver que a reação às coisas deste mundo é a reação que eu tenho dentro de mim, e que portanto tenho visto o mundo sempre pelos olhos da reação e a tomar estas personalidades/eventos como garantidos, em vez de pôr em prática a realização que eu sou responsável por mudar a maneira como tenho existido e que é possível mudar os eventos que afectam o nosso mundo. 

Quando e assim que eu me vejo a culpar o outro pela reação que eu própria sinto dentro de mim, eu páro e respiro. Eu apercebo-me que a reação não tem a ver com as pessoas mas sim com aquilo que me é dito ou com padrões que vejo nelas e que julgo em mim própria. Assim, eu comprometo-me a investigar em mim própria a razão pela qual eu reajo a determinadas palavras, julgamentos, ideias e comprometo-me a tomar responsabilidade pela reação dentro de mim própria e a parar esta energia dentro de mim.

Quando e assim que eu me vejo a reclamar e a reagir porque há algo que vai contra o senso comum, em páro a reação e respiro. Apercebo-me que se quero partilhar o senso comum, a única maneira é passar a existir em senso comum, a dar direção a mim própria, a falar em senso comum, a dar-me aos outros em senso comum. Apercebo-me que a reação é um ponto de separação comigo própria e com os outros, por isso nunca é a solução. 
Quando e assim que eu me vejo a ter a "necessidade" de deitar tudo cá para fora, eu páro e respiro. Eu deito ar para fora, e respiro fundo outra vez até eu parar a mente e me permitir estar estável no meu corpo.
Eu apercebo-me que o meu corpo, um e igual ao corpo dos outros, é o nosso ponto de estabilidade. Eu comprometo-me a ajudar-me a mim própria a criar a minha estabilidade a cada respiração, a cada bater do meu coração e a cada passo. A partir daqui, dou-me direção e começo por escrever a reação ou a partilhar com o outro em auto-ajuda. 

Quando e assim que eu me vejo a entrar no rodopio e labirinto da mente em que o fumo é demasiado grande e me cega daquilo que é o óbvio (a vida humana aqui), eu páro e respiro. Eu não me permito participar na curiosidade das imagens da mente e decido pará-las. Eu páro a ideia que o mundo é demasiado complicado e que não há nada a fazer para nos melhorar.
Apercebo-me que se quero começar a criar estabilidade no mundo, tenho de começar por mim e a parar de complicar nem sabotar a minha própria vida. Apercebo-me que os eventos do mundo são um espelho do massacre que vai nas nossas mentes em que perdemos o respeito pela vida que somos. 

Apercebo-me que teria sido possível que aquelas 27 crianças ainda estivessem vivas se nós adultos começássemos a respeitar-nos enquanto vida, limpássemos o fumo das nossas mentes e resolvêssemos os nossos próprios desequilíbrios. Está nas nossas mãos criar vida ou deitar tudo a perder em reações.

Eu dedico-me a parar cada uma das minhas reações e a respeitar a vida que sou, a vida que os outros são e a ser criadora de vida, e assim participar na vida à minha volta e a recriar-me enquanto vida como aquilo que é o melhor para todos. 
Quando cada um de nós conseguir parar a raiva/reação dentro de nós, será possível confiarmos em nós próprios e uns nos outros; em senso comum vemos que somos todos capazes de apagar o fogo (energia) das nossas mentes que só nos tem separado e destruído o nosso mundo.