DIA 176: Pensei em beber após três anos sem álcool

sexta-feira, fevereiro 15, 2013 0 Comments A+ a-


Enquanto caminhava para casa dei por mim a pensar na sensação de descontração que eu tinha quando bebia bebidas alcoólicas. Não foi por acaso que esta ideia surgiu - apercebo-me que funcionou como um escape à exaustão sentida após uma semana de trabalho intenso. A minha mente saltou para imagens dos meus tempos de Erasmus, das longas conversas, da lata que eu tinha sob o efeito de álcool e foi como se nesse momento percebesse porque é que as pessoas desejam beber no final da semana - aparentemente o álcool anestesia as preocupações  durante algumas horas, como se se tirasse a carapaça de um peso às costas.
Esta foi provavelmente a segunda vez que pensei em álcool  desde que parei de beber há cerca de três anos, cuja decisão foi tomada no momento em que realizei que o álcool trazia supressões ao de cima sem qualquer direção - como se fosse uma realidade paralela que, ao passar o efeito, nada daquilo faz sentido porque não era real em mim. Ao ver que o hábito de beber álcool não me trazia a estabilidade que eu quero criar em mim, foi claro para mim que iria parar para sempre e que iria dedicar a minha vida a direcionar todos os pontos em plena sobriedade para realmente resolver os pontos/supressões em mim.

Vejo o álcool como uma forma de passar "paninhos quentes" e evitar ver as coisas como elas são, por isso o desejo de voltar a beber surgiu como uma alternativa ao meu cansaço do dia-a-dia. Foi como se a mente tentásse intervir na minha decisão de não beber e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para eu rever a minha posição em relação ao álcool. Curiosamente, estava a ter resistência em escrever sobre isto e em partilhar os pontos sobre o álcool no meu blog. Porquê? Porque beber é cool. Lembro-me das primeiras vezes que disse que não bebia álcool de todo, vi o ar espantado da pessoa à minha frente, como se fosse anormal não beber! Aqui em Inglaterra perguntaram-me se a minha religião não o permitia... Em Portugal pensavam que eu tinha aprendido a lição com um coma álcoolico ou coisa assim. Felizmente não foi preciso aprender a lição da forma  dolorosa - no entanto, lembro-me daquelas manhãs de ressaca horríveis em que passava horas a respirar na casa de banho para não vomitar e em que prometia a mim mesma que não tocaria em álcool nunca mais. Claro que estas palavras ficavam perdidas algures no tempo e voltava a beber ao sabor do momento, da festa e da companhia.
Nunca fui de beber para "partir" mas tinha a ideia que podia beber sempre mais e que aguentava! O momento em que me apercebi do quão prejudicial este hábito podia ser foi durante uma house party em Portugal há cerca de quatro anos. Apesar de estar com um namoro estável, permiti-me sentir uma espécie de atração por um rapaz que estava na festa - já nos conhecíamos há mais tempo mas foi como se naquele momento visse que podia haver mais qualquer coisa entre nós - e pelos vistos ele também estava interessado. A aparente liberdade de poder curtir com aquele rapaz não era real porque não existia antes de estar com o efeito de álcool! Como é que posso acreditar que há alguma liberdade na ditadura da mente sobre o corpo?

Apercebi-me que não estava a permitir-me dar-me direção em honestidade própria (e com o compromisso da minha relação com o João)e estava a desistir dos meus princípios de integridade e de responsabilidade.
A parte boa desta experiência foi o facto de ter aberto em mim a minha atenção para os efeitos do álcool na minha mente e permitir-me dar-me direção mesmo assim. Outra coisa curiosa de ver nesta experiência foi o padrão da imagem - aquele rapaz correspondia à imagem de perfeição da minha mente porque era loiro, de olhos verdes e estrangeiro... Posso dizer que resisti à tentação da mente, no entanto, sei que não resolvo os pontos se não escrever sobre eles e realmente me dedicar a viver a mudança. Nisto, apercebo-me que nunca tinha escrito sobre este episódio e que ainda estava a permitir dar asas a estas ideias e à associação entre álcool e sexo.

Aquele momento de flirt foi sem dúvida motivado pela energia da mente, pela energia do desconhecido, pela energia de fazer algo às escondidas, pela imaginação e pela energia de sair da minha vida rotineira - no entanto, também isto são personalidades passageiras porque não se mantém depois do efeito passar. Por isso, nada disto dura. A verdade é que eu não posso sair da minha Vida rotineira, mas o que eu posso fazer é recriar a minha vida, conhecer-me e mudar-me nos pontos/hábitos que requerem mudança para me tornar uma pessoa melhor para mim e para os outros.
Por isso, volto a rever a minha decisão de não me permitir ingerir álcool no meu corpo e comprometo-me a ser assertiva na minha decisão.

No próximo artigo irei escrever o perdão próprio e escrever a solução para cada vez que estes pensamentos surgem.

Foto de Malin Olofsson http://malingunilla.blogspot.com/