DIA 247: Quando Lisboa não é boa…

sexta-feira, setembro 13, 2013 0 Comments A+ a-



Fui sair à noite em Lisboa e, mais do que nunca, apercebi-me de uma contradição no ar. Antes de descrever aquilo que senti e aquilo que vi, foi com tristeza que ouvi a voz alarmada dos mais velhos nos seus conselhos do "tem atenção, as coisas não estão para brincadeiras". Estas "coisas" referem-se ao estado  de crise económica em que o país se encontra (ou se perde!) durante o qual a sobrevivência justifica a estupidez, corrupção e violência.

Este blog vem no seguimento de uma 'demonstração' de violência em plena noite lisboeta, na qual três ou quatro jovens começaram a atacar um rapaz com pontapés na barriga, murros nas costas e, quando este se encontrava já mobilizado no chão, um dos jovens ainda saltou na cabeça da suposta vítima, como se se tratásse de um ring de wrestlin em pleno Bairro Alto. Eu encontrava-me do outro lado da estrada e fiquei estática, sem saber o que fazer mas a desejar que aquela cena parásse. Houve dois homens de estatura forte que se envolveram para separar os "lutadores" e finalmente a cena acabou com o tal grupo a fugir pela rua acima. Provavelmente, muitos de nós que assistimos ao que se passava naquele momento queriamos ajudar e terminar o conflito, mas nestas situações não se sabe o que é que realmente se passou, nem quais são as intençōes daquele "espetáculo", nem se ha alguém armado naquela confusão toda.

Já não sentia aquela ansiedade de perigo eminente há algum tempo. Trata-se de uma sensação de insegurança que me prende os músculos e acelera o batimento cardíaco. Uma das coisas que me faltou foi estar ciente da minha respiração e garantir que a minha estabilidade é inabalável. Esta é a única preparação que eu me posso dar a mim mesma de modo a não alimentar o conflito com mais uma reação vinda da minha parte.

Quando o ambiente naquela rua acalmou, continuei a andar e questionei-me se as proximas eleiçoes autárquicas vão mudar alguma coisa e garantir que a segurança na rua seja um direito básico proporcionado por políticas sociais-económicas. Nesse momento, questionei-me também se algum dos políticos ocupados em ganhar votos estariam ali, àquela hora e local, a ver a realidade crua e dura da juventude nacional.

Aquilo que esta experiência me trouxe não foi uma justificação dos conselhos dos mais velhos, mas foi um alerta pessoal para os medos que eu permito desenvolver dentro de mim por influência daquilo que eu oiço, vejo e imagino. Ao mesmo tempo, realizei que a desigualdade social no país é agudizante - por um lado assistimos à violência mais primitiva e por outro lado, a uma elite em festa numa passerele cor-de-rosa. E finalmente, vejo que campanhas ou programas políticos que não tenham em vista acabar com as desigualdades sociais e económicas são uma fachada desafazada da realidade.

Vou escrever sobre os pontos da ansiedade, medo e antecipação brevemente. Até lá, vou ajudar-me a aplicar o senso comum e a respiração no meu dia-a-dia especialmente quando enfrento situações novas e sugiro também que os cidadãos e políticos exijam soluções que garantam estabilidade financeira para todos os cidadãos, como por exemplo, através da renda básica de cidadania. A prevenção é o melhor remédio.

Faz a tua voz contar pela Renda Básica de cidadania: http://cidadania-europeia.weebly.com/
 
Ilustraçao de Andrew Gable.